testing a new face for the old blog. tried other platforms, but no other seemed good enough.

October 19, 2004

[O Lado Negro - Parte III - "Weak and Powerless"]

[O Lado Negro - Parte III - "Weak and Powerless"]


"A lança coruscante do negro paladino corta subitamente o gélido vento de Sul naquele que foi o primeiro ataque da minha guerra. Defendo-me. A lâmina afiada da sua lança embate violentamente na minha espada, lançando para a atmosfera os seus próprios relâmpagos.

A batalha por mim começou."


Com golpes violentos, o sombrio demónio ataca-me com inaudita fúria, procurando realizar o que dissera, procurando desarmar-me até à minha aniquilação.

Confuso, limito-me a defender-me de seus golpes, à esquerda e à direita. Sinto-me perdido, sem forças nem iniciativa para tentar eu mesmo um assalto. Como se não mais acreditasse na possiblidade da vitória, e me estivesse a defender sem objectivos nem crenças.

Os seus ataques tornam-se cada vez mais violentos, mais precisos. Sinto-me a fraquejar, sinto as forças a abandonarem-me à medida que a minha crença em mim e no meu mundo se dilui na noite escura.

Subitamente, num movimento imprevisível, a sua lança evita a minha manobra defensiva e atinge-me no braço desprotegido, sem armadura. Desviei-me, mas ainda assim senti a reluzente lâmina rasgar-me a pele. Sangue escorreu pelo meu corpo, caiu em gotas rubras para o chão poeirento.

O demónio sorriu malevolamente perante a visão do sangue.

"Disse-te que seria inútil."

Contemplando a ferida, quedo-me imóvel por instantes. Sinto dentro de mim um turbilhão de sentimentos, de emoções, a girar furiosamente no caos, a confundirem-me, a toldarem a minha visão.

Contemplo a rapariga que de longe me observa, com a mesma expressão nebulosa que a minha, completamente absorvida em si. Por momentos parece que a vejo erguer-se e segurar na sua espada, como se em meu socorro fosse.

Mas não. Foi apenas por momentos. A determinação esvaiu-se-lhe do rosto com o violento relâmpago que naquele instante cruzou os céus de tempestade. Permaneceu ali, com os seus lindos cabelos ao vento, de gládio na mão, a contemplar a batalha com um olhar vazio.

"Desiste agora, Anjo Caído, que ainda poderei ter piedade da tua alma."

Desvio o olhar da doce e misteriosa rapariga e enfrento com olhar fulminante o demónio que tais palavras proferira. Sinto um misto de raiva e desespero invadir-me o espírito. Um impulso para a destruição incendeia-me a alma.

"Não precisarei de tua piedade jamais, vil criatura. Feres-me o corpo com tua lança e a alma com a tua presença. Mas não me derrotaste ainda."

Procuro com estas inseguras e pouco convictas palavras encontrar dentro de mim um ponto de apoio, uma réstea de força que me segure no turbilhão que me assola, devastando-me por dentro.

Passo o dedo pela ferida até o deixar coberto de sangue. Passo-o pela face, por baixo de ambos os olhos, deixando dois grossos e rubros riscos no meu rosto. Pinturas de guerra, do meu próprio sangue. Ergo a minha espada, aponto a lâmina ao paladino maldito e deixando o impulso devastador que me assolava tomar conta de mim, ataco-o impunemente.

(...)

No comments: