testing a new face for the old blog. tried other platforms, but no other seemed good enough.

November 25, 2004

[the scream behind the mirror - a soul given to the god of time in the altar of sacrifice]

[the scream behind the mirror - a soul given to the god of time in the altar of sacrifice]


"Olá, planeswalker".

Aqui? Que raios faz alguém neste ermo? Volto-me. Vejo-a. Ela sorri-me.

"És verdadeira?", pergunto bruscamente, mal olhando para as suas volumptuosas formas sombrias, as suas asas de plumagens negras, o seu olhar atrevido e sensual.

"Depende do que consideras verdadeiro. Depois do que tudo aquilo que já experienciaste, ainda acreditas na verdade enquanto conceito absoluto?"

Não respondo. Continuo a fitar o mar sem fim que à minha frente se estende até ao infinito em todo o seu esplendor de azul profundo desta falésia povoada de fantasmas. Fantasmas que vejo sem sentir, que sinto sem ver, que não sei se me vêem, sequer se me sentem. Nada aqui é real.

Talvez nem eu.

Aproxima-se de mim e senta-se ao meu lado, os seus pés, como os meus, balouçando na escarpa de rocha ancestral. Por momentos ficamos os dois imóveis, em silêncio, aspirando o ar de liberdade que me oprime, e que parece oprimi-la a ela também.

"Qual é a sensação?", pergunta ela, quebrando o silêncio que se instalara.

"Que sensação?"

"De te sentires vazio."

Olho para ela, surpreendido. Não, outra vez, não.

"E que sabes tu sobre isso?"
"Não sei. Sinto."

Boa resposta, penso. "É... estranho. Não é como se me tivessem arrancado um bocado... é mais do que isso. Não dói, mas é como se doesse. Não te sei explicar. É estranho."

Ela sorri, cúmplice, como se partilhasse as minhas emoções. Então repara no pequeno cristal incandescente que trago pendurado ao pescoço.

"E isso, que é?", pergunta, apontando para ele.

"Um mundo", respondo, quase automaticamente. "Um mundo que criei com alguém e que com alguém destruí. O que resta dele está aqui."

"E não será isso que te falta para não te sentires vazio?"

Sorrio com a pergunta. "Não. Isto", digo, segurando no cristal e olhando para ele, "não me pertence. Pertence a alguém. Não me perguntes a quem, que não te saberei responder. Simplesmente sei que a tenho de encontrar. Ou ela a mim."

"E sabes onde procurar?"

Olho para o mar infinito, sonhador, esquecendo por momentos os fantasmas que vagueiam naquele ermo esquecido. "Não interessa quando. Tempo. Estou nas mãos dele. Estamos nas mãos dele. Tudo o resto... simplesmente não interessa."

Viro-me para ela, encaro-a. É-me familiar, o seu belo rosto de anjo negro, se bem que ao mesmo tempo completamente desconhecido. "Quem és?"

Ela levanta-se, ficando suspensa à beira do precipício. "No fundo, Anjo Caído... não somos assim tão diferentes quanto julgas. Sabes que já me viste antes, mas não sabes onde. Nem quando. Saberás... espero. Não és o único a estar nas mãos do deus do tempo. Eu também me sacrifiquei a ele."

Sorri-me uma última vez, antes de tornar o seu atraente corpo etéreo e se desvanecer para o vazio, para o infinito entre mundos.

November 23, 2004

[a world's end - from the ashes]

[a world's end - from the ashes]



"Creation is the work of a lifetime. Destruction... is the work of a second..."

Um segundo... que é um segundo? Nada... Num segundo nada se faz, nada se cria. Mas tudo se destrói. Não podemos criar uma vida num segundo. Mas um escasso segundo é mais do que suficiente para pôr fim a uma. Num segundo, nenhum deus consegue criar um mundo. Mas no mesmo segundo consegue reduzi-lo a cinzas.

Um segundo... um segundo será todo o tempo de que preciso.

Seguro na mão um pequeno e negro cristal de obsidiana, reflectindo na sua superfície escura o brilho do fogo devastador que consome este mundo abandonado. Contemplo-o do alto, pairando no ar, destruído, devastado. A imensa força criadora que iluminou a sua concepção tornou-se em energia destrutiva. Prolongar a sua agonia será prolongar a minha. Não o poderei permitir. Reconstruí-lo... teria sido possível, talvez. Mas agora é tarde demais. É sempre tarde demais. Anarkaris disse uma vez que alguns sonhos grandiosos têm de morrer, para que outros, mais grandiosos ainda, possam nascer. É para isso que aqui estou.

E um segundo será suficiente.

Olho em volta, sinto a dor deste mundo pulsar dentro de mim como se fosse minha. Recordo o seu esplendor de outrora, quando o criámos juntos... recordo as auroras de sonho que aqui presenciei, a felicidade que cada uma delas me trazia, o amor que as criava só para nós... recordo a queda abrupta da noite, as negras nuvens de tempestade que cobriram os céus de azul infinito... recordo a mágoa das tuas palavras em sufoco, a desilusão, a queda das crenças, as batalhas perdidas, a fuga desesperada. A dor. Sinto esta amálgama de sentimentos e memórias pulsar com violência dentro de mim, fluir furiosamente nas minhas veias, queimando-me, ferindo-me, transformando-se em energia incontrolável... que se espande dentro de mim até eu não a conseguir mais conter...

Não a sustenho mais. Fecho os olhos, aperto a pequena pedra de obsidiana, liberto esta enegria avassaladora e num segundo este mundo em queda é obliterado pelo poder devastador deste impulso. Num segundo de luz ardente, tudo é reduzido a cinzas, todos os fantasmas de um passado perdido volatizam-se, mergulho no turbilhão do espaço entre universos.

Abro os olhos. Estou no meu mundo, no alto da torre de Nitramneadh. Sinto-me vazio por dentro, frio como como a neve que cai suavemente, embalada pela brisa da noite. Só a minha mão sinto quente. Abro-a, vejo a pequena pedra de obsidiana brilhar como se tivesse fogo dentro dela. Sorrio. Toda a essência daquele mundo para sempre perdido aqui, na palma da minha mão, brilhando ardentemente ao ritmo compassado da minha batida de coração. Está tudo aqui, penso. A chave da minha ascensão, a essência de um mundo novo que que criarei - contigo? - um dia. Algures num futuro sem tempo, pelo qual lutarei a partir daqui.

"From here, let my world to be reborn."

November 22, 2004

[shifting dreams in a parallel universe - the same world, the same characters, the same past, a different story]

[shifting dreams in a parallel universe - the same world, the same characters, the same past, a different story]

Uma vasta cidade envolve-me subitamente. É-me familiar a sua imagem, se bem que dentro de mim a sinta diferente, de alguma forma. Não voltava aqui havia muito tempo; no entanto, este espaço agitado e ainda assim melancólico fez parte de mim, do meu mundo, durante uma parte significativa da minha existência.

Caminho ao acaso pelas ruas parcamente iluminadas, envolto num sem-número de ruídos silenciosos de algum outro lugar que não este. Lentamente, um ténue nevoeiro dissolve os contornos das formas. Evoco este espaço na minha memória, revejo-me nele, se bem que todo ele se afigure diferente aos meus olhos neste momento. E porquê..?

Cruzo a rua, dou comigo no limiar de um jardim secreto, escondido, encaixado entre gigantescos prédios. Vejo-te. Revejo-te. Sentada num gasto banco de madeira, observas-me com um vago sorriso.

Aproximo-me, sento-me ao teu lado, fixo um qualquer ponto no vazio. O silêncio instala-se, cortado a intervalos regulares pelo frio da noite e por algumas palavras sem significado. Para onde foi ele, esse significado, verdadeira essência de uma amálgama de emoções condensadas em tão transcendente sentimento? Ergue-se entre nós uma barreira invisível, feita de desilusão e mágoa, de receio e de dúvida. Não nos tocamos, não nos vemos, sequer nos sentimos. Receamos falar, por motivos diversos que fatalmente convergem num mesmo silêncio espectral.

Levanto-me. Olho em volta, contemplo este pequeno jardim de Inverno onde as pequenas flores da Primavera murcharam há muito. Contemplo o céu sem lua onde a Estrela da Manhã não brilha e jamais brilhará de novo. Sinto-me vazio por dentro, tão vazio quanto esta cidade a fervilhar de vida. Da tua vida. Este lugar não é mais o meu. Não mais me pertence. Entraste num novo mundo, do qual não te posso pedir que abdiques, mas que também nele não posso entrar. Não tenho lugar nele.

Nada foi dito, penso. Nada será dito. Esperas que eu o faça, sinto-o de algum modo. Mas não o posso fazer. Não sem que desses o primeiro passo, não sem que tentasses ordenar este caos de sensações intermitentes, igualmente nostálgicas e dolorosas. Não sem que algo mudasses neste momento, não sem que algo me provasses...

Mas nada muda. Olho-te por uma derradeira vez. Afasto-me em silêncio, esmagado por este vazio que me invade e ocupa. Sinto que me vês afastar-me. E, pela primeira vez, quedas-te imóvel, observas-me partir, até eu desaparecer. Por um segundo julgo que me segues, que vens comigo. Ou que não me deixas simplesmente partir, que me fazes ficar contigo agora, sempre... mas no segundo seguinte essa sensação desvanece-se na tua imobilidade envolta em névoas, assim como se desvanece toda esta vasta urbe atrás de mim, no turbilhão violento do espaço caótico que existe em lugar nenhum.

November 20, 2004

[through the memories, a vision]

[through the memories, a vision]



Foi como ver-me num espelho. À minha frente, o meu reflexo - interior, não exterior, como normalmente seria suposto. Cristalino, claro como gotas de orvalho. Todos os sonhos e pesadelos, todas as dúvidas e certezas, todos os desejos e medos - tudo, ali, nas palavras de um mero desconhecido que me conhece talvez melhor do que eu mesmo.

Está calor. Onde estou? Não sei ao certo. O solo escalda, torna-se incandescente a cada passo que dou. Até onde a vista alcança perscruto terra devastada em ebulição, em erupção, como se todo este mundo se movesse por força de um qualquer impulso ardente. Sinto esse impulso, violento como uma batida de coração a pulsar dentro de mim. Como se me reconhecesse.

Percebo então que já aqui estive. Faz tempo, muito tempo. Não me lembrava mais. Mas sinto-o dentro de mim. Recordo a sua essência, somente, percebendo que algo está diferente. Algo mudou.

Olho em volta. Este não mais é um mundo em criação, como era aquando da minha passagem por ele. Está destruído, fragmentado, talvez de forma irreversível. Foi abandonado, entrou em colapso. Cada explosão de fogo, cada tremor o aproxima do fim. Sinto tristeza por isso, de alguma forma. Mas não creio nada mais poder fazer por ele. Não sozinho. Não por minha iniciativa.

Quem o criou... não mais o quer. Ou não mais o parece querer. Porque hei-de eu lutar por ele..?

November 18, 2004

[sibil]

[sibil]



"Eu conheço-te, viajante", diz subitamente um velho, sentado na soleira de um prédio, envolto na penumbra daquela rua escura.

Paro, surpreendido, talvez tanto por alguém me abordar aqui, neste mundo, como por esse alguém dizer que me conhece - a mim, que nunca aqui estive antes.

"Desculpe?"

"Tens lume?", pergunta-me ele, retirando da algibeira retalhada um cigarro quebradiço, indiferente à minha surpresa.

Nada disse. Retirei o isqueiro do bolso e acendi-lhe o cigarro. Perda de tempo, pensei. Podia tê-lo feito apenas com um pequeno impulso de pensamento. Ele disse que me conhecia, afinal. Se assim é, deve decerto saber da minha condição de planeswalker. Mas não o fiz. Estendi-lhe a chama trémula, ele acendeu o cigarro com uma longa baforada. Sorriu.

"O que procuras não está aqui", tornou ele, no mesmo tom enigmático.

"Sabe o que procuro, então?", pergunto eu, desconfiado. Não compreendo. Entro neste mundo, nesta cidade. Tento dissimular-me, desaparecer na multidão, no aglomerado urbano que nos abafa e nos imerge na nossa individualidade num vasto e profundo mar de indiferença. Sinto-me só, mas quando não me senti eu só? E de repente um velho mais velho do que o Tempo aparece vindo do nada a olhar dentro de mim.

"Sei que vens de longe, de muito longe. Sei que deixaste um mundo imenso que tu próprio criaste porque ele não te completa. Porque sozinho não o consegues completar."

"Que quer isso dizer?"

"Quer dizer que tu andas há tempos e tempos a saltar de mundos em mundos quando o que tu procuras, na verdade, não é um lugar, mas uma pessoa. Que complete o teu mundo. O mundo que criaste para ti é perfeito por si só. "

Verdade, verdade, verdade. Sinto-me a levar bofetadas na cara. Sinto-me nu, quase. Impressionante.

"Confuso?", perguntou ele, sorrindo, dando grandes baforadas no cigarro.

"Digamos que sim."

"Está tudo aí, viajante. Nos teus olhos. Toda a tua demanda, todo o teu mundo, toda a tua mágoa, toda a tua confusão. Chamei-te de viajante. Talvez paladino tivesse sido mais adequado. Porque no fundo, esta tua viagem é uma demanda, uma cruzada. Se bem que pareça mais uma fuga."

"Uma fuga? De quê?"

"Não é essa a pergunta", respondeu ele, atirando a beata fumegante para o chão. "Sabes disso. Tu já encontraste o que procuras, há muito tempo atrás. Mas foges. Foges porque a tua mágoa mudou todo aquele mundo, e sentes não mais pertenceres a ele. Sentes que não tens mais lugar nele."

Fito por momentos a beata abandonada no chão. Sinto-me derrotado, vazio, frio por dentro, tão frio quanto a noite que me envolve e que já nem sinto. Todo o sentido num momento que faz sentido nenhum.

"E pertenço?", pergunto por fim.

"Não sei". Encolheu os ombros, riu-se. "Não posso saber tudo. As respostas, pelo menos, tens de ser tu a descobri-las. Ou a criá-las. Tens a capacidade para fazer o que quiseres. Apenas te posso dizer uma coisa: não é aqui que está o que procuras. Se está nas brumas ou na luz... não te sei dizer. Tens de ser tu a descobrir."

Não lhe respondo. Não aguento mais, simplesmente. Liberto a minha mente em angústia, desvaneço o meu corpo evanescente, deixo-me envolver pelo turbilhão ardente do nada entre mundos.

November 14, 2004

[sometimes, fear must be set aside - because sometimes, love is stronger than anything]

[sometimes, fear must be set aside - because sometimes, love is stronger than anything]



Sinto-me cansado. Cansado de deambular por mundos e mundos, procurando qualquer coisa que nem sei bem o quê. Cansado de a cada passo que dou tropeçar em fragmentos do meu passado que teimosamente insistem em ficar presentes, de forma evanescente e perturbadora. Cansado de regressar a este lugar, quando nada mais me resta. Cansado de fugir, nem sei bem de quê ou de quem.

Não mais.

Deixo por momentos a minha imaginação fluir livremente pela noite fria, sinto o meu corpo desvanecer-se, o cimo da torre de Nitramneadh diluir-se no caos de energias em turbilhão do espaço entre mundos. No segundo que se segue tudo é nada e o nada é tudo. Apenas o caos à minha volta. Até que também o caos se desvanece, revelando as brumas de um novo mundo.

Não é um novo mundo, afinal. Estou na floresta onde antes já estive. Tudo é luz à minha volta, como se as trevas tivessem perdido a luta. Não mais vejo o caminho que antes percorri. Estou no limiar de uma grande clareira. Um jardim. Ao centro, um pequeno riacho de cristal forma um lago de águas mansas e puras. Junto do lago, vejo-te a ti.

À tua volta, apenas luz. Como se dela fizesses parte - e talvez até faças. Contemplo-te por momentos da orla da floresta, vejo-te tranquilamente sentada na frágil ponte de madeira do lago. Fitas tudo e nada com o teu olhar meigo. Não me vês, não deixo que me vejas. Não ainda. Não enquanto souber que a minha sombra ainda me persegue. Mas aqui a minha fuga termina. Nunca foi uma opção - porque o há-de ser agora? Se paladino eu era, paladino voltarei a ser, pois que a espada e a armadura ainda estão comigo. E olhar para ti neste momento, Anjo de luz na terra, faz-me ter a certeza de que esta luta vale a pena.

November 11, 2004

[from here to nowhere - between space and time, fear is not an option - why am I running away?]

[from here to nowhere - between space and time, fear is not an option - why am I running away?]


E subitamente o meu corpo começou a desvanecer-se. Planeswalk. Viagem entre mundos, entre universos inteiros, algo que recentemente descobri em mim mas que sou incapaz de controlar. É controlada pela minha inconstante imaginação - tal como eu.

Vejo a gruta e as suas paredes rochosas desaparecerem lentamente, como se de névoas fossem feitas. O som da água em queda, da tua voz doce cantando uma canção de luz em trevas absolutas tornam-se em ecos distantes até não mais se conseguirem ouvir. O caos de energia em turbilhão do nada entre universos envolve-me por momentos na sua tempestade silenciosa, até que também ele se desvanece.

Negras nuvens de tempestade cobrem os céus, vomitando violentos relâmpagos que iluminam a noite e explodem contra o solo com violência e fragor. O som cavernoso dos trovões ecoa pela vasta planície desolada. Do nada emerge um dragão imenso, negro como breu, corcel alado de um paladino de trevas empunhando uma lança de luz demoníaca. Um exército destroçado debanda em todas as direcções, movido por puro medo, procurando um qualquer abrigo contra tão poderoso adversário. Apenas um guerreiro permanece, desafiando o paladino como se o conhecesse, como se o esperasse. Não me vêem. Combatem furiosamente, sob o olhar atento do imponente dragão.

Apenas a rapariga sente a minha presença. Não a vi, suspeito que esteja ali desde o início, observando a sangrenta batalha com um olhar triste, sem intervir. Fita-me agora, uma luz simultaneamente triste e ressentida trespassa-lhe os seus invulgares olhos azuis. "Já estiveste ali", sinto a sua voz meiga sussurar na minha mente. "Já combateste aquele demónio antes, lembras-te? Porque não lutas novamente? Porque não tornas a erguer a tua espada e voltas a combatê-lo com o fulgor de outrora?"

Observo a batalha uma derradeira vez. Não, não mais me posso envolver. Não assim, sozinho. Deixo-a continuar. Num esforço mental, faço todo este mundo desvanecer-se, perco-me nos céus furiosos até o caos do espaço entre mundos me engolir mais uma vez. Fujo. Da batalha, do olhar triste e acusador da rapariga, das minhas próprias dúvidas, dos meus próprios medos. Fujo, simplesmente. Este mundo não me pertence mais, se é que alguma vez me pertenceu. Solitário como sempre, vagueio pelo turbilhão do nada até dar por mim no cimo da imponente torre de obsidiana da cidade de Nitramneadh, no Submundo. No meu mundo. Suspiro. Apesar de ter criado este lugar, não sei se a ele pertenço. Mas por vezes penso que daqui nunca devia ter ousado sair.

November 08, 2004

[a dream through the dark sky]

[a dream through the dark sky]


"Olhei para o céu cristalino, vi uma estrela cadente cruzar a esfera celeste com a sua luz fulgurante. Pedi um desejo... sabes qual foi? Que tu me ames... que eu te ame... que fiquemos juntos para sempre, unidos nesse amor desenhado num céu de cristal. A ti, só a ti."

November 07, 2004

[shifting realities, a step between worlds - Past, Present and Future together in the same heartbeat - a song out of darkness?]

[shifting realities, a step between worlds - Past, Present and Future together in the same heartbeat - a song out of darkness?]

And then light went away. The verdant forest suddenly vanished in darkness. Silently, almost violently. Then I felt the pulse. Its pulse. Unaware, I felt my soul being taken out of my battered body and falling to the ground. It isn't gone, as I thought it'd be. As I wanted it to be. It is still here. I can feel its presence, still lurkin' around, still crawling in the dark, still haunting. Wanting me, still, I suppose. But it is too late for it.

Then I realised that I am no longer in the forest. Where I am now I can't say for sure. It was strange. For a moment I felt as if I was travelling between world once again, but I don't remember recalling. For a moment I stepped in a distant past and it became present once again, just as it used to be, just as I can remember it - sweet, joyful, friendly. Then it vanished and I woke up here.

But what's here?

I open my eyes but they're useless in the darkness that surrounds me. The ground beneath my feet is no longer soft but dark, as if made of stone. It seems I am in some kind of underground cave. How I came here I don't know. But a cold chill that comes from behind me tells me that I can't stay here for too long.

I start to walk through the rocky tunnel. Now I can hear a sound. Water falling, somewhere ahead. Is that light I can see in the end of the cave?

I reach the treshhold of the tunnel. A wide underground cave is now in front of me. A great waterfall bursts from somewhere above, shining in light it falls to the floor below. Where you are. Quiet, staring at the light above with your sweet eyes. Dreaming, perhaps. Waiting for something, for someone?

From your warm lips cames a sound. A song. Unaware of my presence behind you, you sing. You sing a song we both know, we both remember, for we heard it together a couple of times. Now you're there, alone, lost, singing the song of the day we met, the song that seems to frighten my ghosts and push away my fears.

"I tried so hard,
And got so far...
But in the end,
It doesn't even matter...

I had to fall,
To lose it all...
But in the end,
It doesn't even matter..."

(remember..?)

November 03, 2004

[Future's wake - for the choice is already made - "long is the way and hard that leads from hell up to heaven"]

[Future's wake - for the choice is already made - "long is the way and hard that out of hell leads up to light" (Milton, Paradise Lost)]


Um arrepio de frio percorre-me a espinha. Como se a floresta, o caótico cemitério, a água gélida que me envolve os pés, tivessem ganho vida, e me envolvessem no seu espírito. Como se as essências dos dois mundos que naquele espelho negro vejo reflectidas ali estivessem efectivamente presentes, ambas me contemplando, ambas me atraindo, ambas me rejeitando. Sinto-as. No que foram, no que são, no que podem ser - desde a luz primordial até às trevas do desconhecido.

Sinto a névoa suave que me acaricia e me envolve, para no segundo seguinte se desvanecer. Na água cristalina vejo revelar-se, entre a neblina, um objecto. Um artefacto. Apanho-o do solo gelado, quedo-me surpreso. Uma estrela-do-mar está nas minhas mãos. Vejo, triste, o que é, relembro o que foi, a luz radiante que emanava. Não mais. Do brilho fantástico de outrora resta um apagado lampejo, um tímido fulgor. Não volta, não mais creio que volte. Perdeu-se? Deixei-o perder-se? Não sei, não o saberei jamais. Ficou perdido nas brumas. Esconde-se por detrás da evanescente névoa, sem me deixar compreender se o escasso brilho que vejo agora é real ou apenas mais uma ilusão.

Coloco a estrelinha de novo na água. Deixo com ela uma lágrima tímida, que a acompanhe no seu caminho. Ergo a face, contemplo o desenho de luz que acima de mim ilumina a floresta sombria. Futuro. Oscila, tranquilo, ao sabor da fresca brisa que agora sompra, suave, doce. Sorrio. Caminho de luz e sombra afigura-se nos inúmeros candeeiros, um mundo desconhecido aguarda em expectativa. Sinto-o a nascer dentro de mim, a pulsar a cada batida de coração, a crescer. A tornar-se real, palpável. Vivo.

Ilusão, talvez? Não o sei, não o saberei jamais se não tomar o risco.

E subitamente tudo se desvanece à minha volta. A sombria floresta, as soturnas tumbas, a água gélida dá lugar a um caminho fofo, coberto de erva fresca e caruma. Altos pinheiros ladeiam o caminho. Trevas e luz cobrem ambos os lados do trilho, envolvendo as árvores milenares, de forma simultaneamente quente e fria. Um brilho iridescente revela-se em esplendor longe, ao fundo, os seus raios, alcançando-me, envolvendo-me, acariciando-me o rosto fatigado, reconfortando a minha alma cansada.

A escolha foi feita. Passei para o outro lado do espelho. Uma nova luta recomeçará, ao longo deste caminho que diante de mim se revela em fulgor. Não sei o que o Futuro me reserva. Não quero saber. Prefiro descobrir agora.

Contigo...


("There will be gains for our losses,
There will be rights for our wrongs")

November 01, 2004

[until the end]

[until the end]



"E de repente olhas em volta e apenas vês morte e destruição. Tudo arde, tudo jaz em destroços, ouves apenas gritos de guerra e explosões. Nada mais faz sentido para além da tua vida, na tua mente apenas consegues ter um pensamento: como sair do inferno em que te meteste. Sabes que estás sozinho, não importa quantas pessoas se aproximem de ti. Sabes que a tua vida depende somente de ti, e de mais ninguém. Mas isto é apenas um momento. No outro tudo faz sentido. Voltar para trás deixa de ser opção. Nada ficou para trás. Os teus companheiros morreram, e aqueles que ainda não caíram cairão brevemente. Este é um momento de lucidez em que tu vês mais além, mas só tu. Para todos os outros, o que tu vais fazer é loucura, pura e simples. Mas não te demoves. Sabes que nada tens a perder. E, com a mesma energia que pensavas que tinhas para fugir, ergues a tua arma e avanças. Corres para o teu objectivo, sozinho, numa cruzada até ao fim. Não desistes. Não mais sentes medo, dor, sofrimento. Lágrimas correm livremente pelo teu rosto, mas não por morreres - mas pela pena que tens de deixar a vida. Lutas furiosamente, até ao limite das tuas forças, até tudo parecer perdido - e mesmo aí, avanças. Nada mais te demove. Aspiras unicamente à liberdade - e, perdido no meio de uma guerra, sabes que não mais o teu corpo será livre. Apenas a tua mente, os teus sentimentos. E é por isso que lutas."


Narayan, Rogue Necromancer, As Crónicas do Submundo