testing a new face for the old blog. tried other platforms, but no other seemed good enough.

October 31, 2004

[amidst the chaos, darkness - fallen dreams, storms of fire and stone - when will it end..?]

[amidst the chaos, darkness - fallen dreams, storms of fire and stone - when will it end..?]



Caminho pelos vastos campos verdejantes, tendo ninguém por companhia. Nem mesmo a minha sombra, eterna e agoirenta companheira, comigo permanece; o Sol há muito que se escondeu por detrás do espesso manto cinzento de ameaçadoras nuvens que, sem aviso, enegreceram os céus azuis que contemplava.

Que vejo eu, à minha volta? Terra sem fim, até onde a vista alcança. Uma imensa pradaria primaveril fechada naquele vale escondido entre os picos das titânicas montanhas que se impõem, delimitando o seu domínio, como uma fortaleza inexpugnável... Um vasto campo verde, viçoso, vivo, onde me encontrei, onde me senti renascer. Um espaço só meu, banhado pelo reconfortante Sol, onde o Tempo parecia não exercer qualquer poder.

O meu locus amoenus.

Agora oculto por as nuvens traiçoeiras que me roubaram a quente luminosidade, deixando-me apenas a luz opaca que através delas se propaga.

Que mais falta acontecer..?

Eis que nas altas nuvens se abre uma espiral, quase um portal para outro mundo, para outra dimensão... alegro-me por momentos: julgo que o meu Sol vai voltar, irrompendo por a massa nebulosa.

Mas não.

Uma chuva tem início. Não uma chuva natural, deixando cair milhões de gotas de água revitalizantes no solo; tem início uma chuva atroz. Pedras incandescentes surgem a grande velocidade por a espiral dos céus, caem como estrelas cadentes em todas as direcções. Uma a uma, atigem o solo com estrondo, com um estrondo que ouvir não consigo, pois que meus sentidos me abandonaram naquele momento angustiante. Quedo-me ali, solitário, a observar o outrora verdejante vale a ser devastado e queimado por aquela praga dos céus, castigo cruel de algum deus do submundo onde em tempos pertenci..?

Desejo que tudo aquilo acabasse. Desejo que tudo de um pesadelo não passasse, e que ao voltar a abrir os olhos visse tudo como estava antes. Em dor abro os olhos e vejo tudo arrasado pelo fragor daquela violenta tempestade de fogo vivo. Vejo tudo perdido, toda a beleza queimada, toda a felicidade destruída.

Sobrevivi. Como sempre. Mas nada à minha volta teve a minha sorte. Como sempre.

October 30, 2004

[ancestral recall, future's wake - am i red or blue?]

[ancestral recall, future's wake - am i red or blue?]


"if today I die
and can't deny
the poison chosen
for tonight..."


Ouço a música dentro de mim, ecoando pelo silêncio da noite. Caminho sozinho, pois que companhia há muito que não encontro. Noite. Está escuro, e eu na floresta de sombras e sonhos, perdido.


Sinto o pulsar do silêncio na pesada imobilidade da floresta. Não há vento que faça bulir as escuras folhas, não há luz que revele as verdadeiras cores deste mundo. Não as vi, ainda. Cheguei há pouco.


Não é este o meu mundo. Já nem sei bem qual é... a viagem entre mundos é já tão longa. Muitos criei-os eu mesmo. E deles fugi. Por medo, por cansaço, jamais pelo simples gosto de viajar. Nunca consegui permanecer muito tempo num mundo.


Este não o criei. Apenas fugi da minha última e mais esplendorosa criação. Vagueei, errante, pelo nada intemporal que separa universos até me aperceber desta alta floresta que nem sei bem de onde veio.


Quedo-me num vasto cemitério perdido entre as árvores, pedras tumulares que emergem, como os troncos, do solo coberto por uma fina camada de água cristalina e fria. Uma névoa espectral eleva-se deste lago, qual espíritos dos há muito mortos. Sinto-a, envolve-me lentamente como numa carícia, suave, meiga, sedutora. Faz-me recordar. Acima, pendurados nos ramos das árvores, milhares de pequenos candeeiros de fogo eterno iluminam as trevas da noite. Sinto a sua luz, aquece-me a face, reconforta-me a alma. Faz-me sonhar.


Agora sei.


Sei porque aqui vim. Sei porque percorri esta floresta encantada até chegar a este lugar. Não sei porque fugi do meu mundo - mas sei porque a sequência dessa fuga me trouxe aqui. Precisamente aqui.


Este mundo é o meu espelho. Perdi-me na floresta, achei-me neste santuário. Divido-me entre a névoa que está em baixo e a luz que está acima. A névoa é o espectro do mundo em que vivi, belo e sedutor, que amei como nenhum outro... e que perdi, mas que me parece querer de volta, sinto-o, por vezes, na sua inconstância, em que me agarra num segundo e no outro me rejeita... Os pequenos candeeiros de luz são a luz de um mundo que desconheço ainda mas que sinto que me chama, que me quer nele... um mundo mágico, com o qual sempre sonhei, mas que jamais pude conceber.


Contemplo ambos com um olhar vazio. Neste mundo onde me encontro não mais posso prosseguir; anvançar é um imperativo. Seguro firme na minha lança. A escolha está revelada, a luta impõe-se. Tanto para num mundo conhecido como na luz do desconhecido.


Não sei qual será o resultado. Sei apenas que nesta noite, só nesta noite, o futuro de ambos os mundos está nas minhas mãos.

October 27, 2004

[the Future is yours]

[the Future is yours]



"E se soubesses que o mundo acabava hoje, que farias diferente?"
"E se eu te dissesse que, por fazeres algo diferente, o mundo não acabaria hoje?"

"E se soubesses que o teu medo obliteraria todo um mundo, enfrentá-lo-ias?"
"E se eu te dissesse que, ao enfrentares o teu medo, todo um mundo renasceria..?"


"E se pudesses escolher um erro do teu passado e alterá-lo, o que mudarias?"
"E se eu te dissesse que, ao mudares esse erro, recuperarias tudo aquilo que perdeste..?"


"E se soubesses que, afinal, talvez não fosse tarde demais, que farias?"
"E se eu te dissesse que, não sendo ainda tarde demais, o rumo do passado ainda poderia ser alterado..?"


"E se tivesses de escolher entre a tua vida e a vida da pessoa que te ama, qual escolherias?"
"E se eu te dissesse que, ao escolheres a vida da pessoa que te ama, ela poder-se-ia tornar numa só... com a tua..?"

October 26, 2004

["One shall stand... one shall fall..."]

["One shall stand... one shall fall..."]




(...)

"Again?"

"Somethings never change, my dear."

"Yeah, I know that..."

"Surprised?"

"No. Of course it doesn't mean I was expecting it to happen. But it doesn't surprise me. I knew it could happen."

"I also knew it... guess I just didn't want to believe it was possible. Still I don't understand how it happened."

"How was it?"

"Strange. It was like the first time. Too much doubts. Too much fear. A fustrating feeling of confusion about what to do next. And pain. A little pain still lurkin' around..."

"And now? I thought you were, once again, waging war against yourself..."

"And I am. That's the funny thing. Now... I don't know. Imagine the picture: two enemies that oppose each other every time... two enemies figthing in the battlefield of the Present. Behind them, a Past of happiness and sorrow and war. Towards them, an unknown Future where everything might be possible... and between them, an angel. A radiant angel."

"I see... Can the angel interfere? I mean, can she help one of the sides of that war?"

"Perhaps. If she really wants to, perhaps she can. But I don't know if she's willing to."

"And what if you know that?"

He smiled.

"Perhaps that was the only help one of the sides really needs... to win this war..."

(...)

October 25, 2004

[dreams are made winding - a midsummer night dream]

[dreams are made winding - a midsummer night dream]



"Ena... viste aquilo?"

"Vi o quê?", perguntou, distraída.

"Aquela estrela cadente... explodiu no céu, num enorme clarão... lindo... nunca tinha visto nada assim..."

"Não vi...", respondeu, um pouco triste. "Pediste um desejo?"

Ele sorriu, olhou para ela com um olhar cúmplice.

"Pedi... estou a realizá-lo agora."

Ela sorriu, e nada disse. Não era necessário. Caminhavam de mãos dadas por um trilho de areia, nas falésias à beira mar, em direcção ao "lugar secreto" dele.

Chegaram por fim a um pequeno espaço plano entre rochas. Abaixo, apenas o vasto oceano, as suas ondas rebentando calmamente nos rochedos milenares. Acima, o céu limpo, iluminado por mil estrelas brilhantes. O seu "lugar secreto", onde de vez em quando ia sozinho, contemplar o mar, pensar, divagar, sonhar. Pela primeira vez ia acompanhado, não para sonhar, mas para concretizar um sonho.

Apagou a lanterna, estendeu uma manta no solo irregular. Sentaram-se ambos, muito juntos. Envolveu-a numa outra manta, e por momentos ficaram ali, sozinhos na noite, envolvidos no embalar da rebentação, em silêncio, a contemplar o céu.

A Lua. Nunca tinha visto uma Lua como aquela, iluminando com a sua luz pálida a noite, reflectindo-se no vasto espelho de água do calmo oceano. Nunca um momento lhes parecera tão perfeito, tão mágico como aquele, naquela noite calma em que estrelas cadentes riscavam os céus com luz, qual fogo-de-artifício da Natureza.

Beijaram-se apaixonadamente, envolvidos no mesmo abraço, no mesmo calor. Muito havia para dizer naquele momento, mas nada disso importava. Apenas o sentimento que partilhavam, tão mágico como aquela noite.

Olhou-a nos olhos.

"Nem acredito que estamos aqui... agora... é como um sonho, sabes..?"

Ela sorriu, passou a mão pelo seu rosto numa carícia meiga.

"Se é um sonho... não me deixes acordar... fica apenas aqui... comigo..."

Deu-lhe um beijo suave e doce. Sorriu, olhou-o nos olhos.

"Amo-te...", sussurrou-lhe ele ao ouvido.

"Também te amo... muito..."

(...)


October 24, 2004

[O Lado Negro - Parte IV - "Going Under"]

[O Lado Negro - Parte IV - "Going Under"]




"Passo o dedo pela ferida até o deixar coberto de sangue. Passo-o pela face, por baixo de ambos os olhos, deixando dois grossos e rubros riscos no meu rosto. Pinturas de guerra, do meu próprio sangue. Ergo a minha espada, aponto a lâmina ao paladino maldito e deixando o impulso devastador que me assolava tomar conta de mim, ataco-o impunemente."

Com uma força que nem eu percebi de que recônditas profundezas veio, ataco o sinistro cavaleiro com golpes violentos. Procuro não pensar; procuro não dar importância ao turbilhão que por dentro me devasta. Apenas atacar. Apenas lutar. Por tudo. Por nada.

Surpreendido, o espectro assume uma postura defensiva, esquivando-se ao meu ímpeto, desviando-se de alguns golpes, bloqueado outros. Consegue parar o meu último, e por momentos ficamos próximos uns dos outros, as nossas lâminas faiscando com a força com que se comprimiam uma contra a outra. Olhámo-nos olhos nos olhos com fúria e desprezo.

"Boa tentativa. Mas de que te servirá..?"

"É apenas o princípio..."

Sinto-me, ao pronunciar estas palavras, estranhamente confiante. Num ímpeto, empurro-o para trás, deixando-o sem defesa por breves instantes. Os instantes de que necessitava para lhe desferir um golpe violento no peito.

Sangue cobre-lhe agora a armadura, na zona do peito onde o atingi com força. Mas nem um esgar de dor esboça a negra criatura. Limita-se a rir. A rir baixinho.

"Julgas tu, Anjo Caído, que me podes derrotar assim? Feriste-me... e depois? Que dor me podem provocar os teus golpes, quando sou eu a tua dor? Que sofrimento me podes tu infligir enquanto em ti não acreditares, enquanto não tiveres verdadeira convicção de que tal podes fazer..?"

Esgazeado, vejo a ferida que lhe abri no peito fechar-se e sarar, como se nem lhe tivesse tocado. Dou um passo para trás, deixo cair a espada com estrondo. O choque é grande demais. Sinto o turbilhão reacender-se dentro de mim perante a cruel realidade que se me impõe e me esmaga. Crença. Crença em mim. A chave da minha vitória, a ausência da minha derrota.

Onde posso eu encontrar, essa crença em mim?

O negro paladino aponta-me a afiada lâmina, preparando-se para o golpe final. Fito-o. Sinto as forças a esvairem-se. Desvio o olhar, procuro nos negros céus de tempestade algum sinal de esperança, alguma luz...

Os meus olhos param subitamente quando se cruzam com o olhar cristalino da enigmática rapariga que, desde o início, imersa na sua própria luta que se não vê mas sente-se, me observa com uma expressão estranha que não consigo interpretar, um misto de compaixão e compreensão, talvez..? Na sua mão segura já com firmeza a sua espada... Olho-a amargurado, pensando em tudo o que ela representa, enquanto sinto a coruscante e mortífera lâmina do cavaleiro negro aproximar-se de mim...

October 22, 2004

Doce Nostalgia

[shards of the past - crossing the edge of the looking glass - leaving the past behind]



Escrevi este texto há muito tempo. Nem sei por que o escrevi eu naquela altura: simplesmente não fazia sentido. Não tinha contexto. Mas foi um pensamento sombrio que na minha mente irrompeu num momento de felicidade que eu materializei na altura... e que agora se concretizou.

Doce Nostalgia

Quanto tempo passou? Um minuto, uma hora..? Um dia, uma semana... um mês? Não sei. Não o sei. Perdi a noção do tempo. Do tempo que se desvaneceu durante aqueles momentos de inenarrável beleza. Do mesmo tempo que de forma alucinante a eles se sucedeu, enviando-os quase de imediato para as profundezas obscuras do passado, para as sombras do caminho sem retorno que para trás de mim fica ao longo do meu caminhar. Ao longo do nosso caminhar, que direcções opostas tomou. Por que nos não é permitido agarrar um momento? Por que se esvai o Presente e a sua magia das nossas vidas, como a água da fonte que em vão tentamos segurar nas nossas mãos frágeis, irregulares, calejadas pelas nossas constantes lutas..?

Nada mais resta para além da memória. Da doce memória de ti que no meu coração guardo, nesta hora solitária, juntamente com todo o imenso amor que não esqueci. Da angústia de ter perdido o que por momentos julguei ter conquistado após tantas lutas... por momentos... Recordo-te com saudade, a ti e a cada momento único que contigo passei... sinto ainda na minha pele a suavidade do teu toque, nos meus lábios o doce sabor dos teus beijos, dentro de mim o teu pulsar... sinto não o presente, mas o passado. O passado que vivi, que subitamente desapareceu nas brumas, que não mais volta... Qual é o sentido de tudo isso? O mesmo da vida. Nenhum. Nenhum para além daquele que lhe atribuímos... condenado estarei eu a viver com esta mágoa, com esta dor? Não sei. Da minha humildade, espero que Cronos e Afrodite de mim se compadeçam, e que apaguem a indelével dor desta memória que esquecer não queria jamais, tornando-a apenas em nostalgia... em doce nostalgia...

(31.05.2004)

October 20, 2004

["wake up, dead man! there's a life for you out there!"]

["wake up, dead man! there's a life for you out there..!"]



"... And definitely, you're wasting yours. Thought you've figured out that by now."


"And I did." A warm smile lighted his somehow sad face. "In a manner of speaking, of course."


"Kinda like that smile. It has been a while since the last time I saw a smile in your face. Fits you good."


"So I suppose. But you know... such things aren't easy..."


"I know that. When we fall, we try to be just fine, to raise our head and follow our path... and sometimes we are mistaking ourselves, believing that we forgot our past when it's still present in our mind and in our heart."


"Exactly. That's how illusions are made. We raise based in illusions... but those illusions never last long... and then we take the fall again."


"Why do I have the feeling that was what happened to you..?"


"Is that so easy to guess?"


"I know you well..."


"Hell, you do... whatever. No more illusions. Now I am on the edge of the looking glass, and I wanna walk through it. There's a brand new world for me on the other side... Once, I found it. I wanna do it again."


"That's the spirit. No more falls?"


"No more... I had enough. There's no point being here looking at a time that is gone for good, and that will never return... the Future is mine, and I hell if I will waste it."


"So, you're starting like Alice... tumbling down the rabbit hole... towards the unknown. That's the essence of life. Fear not. That's the way we go ahead. Remember Kierkegaard: "Life can only be understood if we look back; but it can only be lived looking ahead.""


"And I'm looking ahead, for I don't wanna stay behind... I won't stay behind... I wanna go through the looking glass. You know, if I was given a wish, I'd like to have the chance to chose a girl to love and to love me... I know just the girl..."


"But you will never be given such a wish..."


"I am aware of that. But I don't need that. Sooner or later it will happen. Sooner or later I will forgot all this... someone will make me forgot all this. I am just waiting. No hurries, no pressions. There's time. There's plenty of time..."


"That's the only thing you need, my angel. Time. The everlasting time. Everything else will come to you as it passes by..."


(...)

[torn apart by a sigle memory...]

[torn apart by a single memory...]




Sento-me à janela. Há muito que não o fazia, pelo menos desta forma. Acendo um cigarro, deixo uma sensação apaziguadora e melancólica tomar conta de mim.


Olho para o exterior. Está vento, mas não o sinto. Contemplo a noite nublada, vejo as nuvens de tonalidade indefinida sucederem-se no céu revoltado a uma velocidade estonteante. Devagar, deixo a melancolia tomar conta de mim, deixo cada nota da triste valsa que flutua na minha noite entrar dentro de mim.


Percebo tudo. Tudo aquilo que antes não percebi, não por não ser capaz de tal, mas porque, simplesmente, não quis perceber. Vejo tudo de novo... não um céu turbulento, inconstante, mas um fantástico céu estrelado... apago o cigarro devagar, vejo pequenas fagulhas cintilantes cortarem a noite, qual estrelas cadentes no firmamento...


Vejo-te. Como sempre te vi, como sempre te quis ver. Percebo que sinto a tua falta, mais do que alguma vez já senti. Percebo que estava enganado, que me andei a enganar neste tempo todo, que conscientemente me deixei invadir não por sentimentos reais mas por puras ilusões... percebo - finalmente! - as duas grandes verdades que tentei afastar da minha mente, e cuja inevitável presença me esmaga... que te amo, como sempre amei... e que te perdi... para sempre...


Vejo tudo. O sombrio demónio voltou mesmo, como profetizara, montado em seu dragão alado. Desafiou-me novamente. Mas não o enfrentei. Fugi. Tornei toda a anterior batalha inútil, desprovi-a de todo e qualquer sentido. Sucumbi a ele, quando disse que tal não aconteceria jamais. Deixei-me consumir pelos meus medos.


E paguei caro... bem caro, o preço dessa derrota.


Que me resta, agora, neste momento de arrebatadora dor? Memórias. Memórias do teu olhar cristalino, do teu sorriso meigo, dos teus lábios quentes, apaixonados. Saudades de ti, de te sentir comigo, de te saber comigo... mas não mais. Lembro-me daquela música... together, we were "the purest form of life..." but "our days are never coming back..."


Levanto-me. Deito fora o destroço de cigarro, desligo o som, fecho a janela. Mergulho o quarto na penumbra e no silêncio. Quedo-me só, mudo, destroçado. Que me resta..?


Não sei...

October 19, 2004

[O Lado Negro - Parte III - "Weak and Powerless"]

[O Lado Negro - Parte III - "Weak and Powerless"]


"A lança coruscante do negro paladino corta subitamente o gélido vento de Sul naquele que foi o primeiro ataque da minha guerra. Defendo-me. A lâmina afiada da sua lança embate violentamente na minha espada, lançando para a atmosfera os seus próprios relâmpagos.

A batalha por mim começou."


Com golpes violentos, o sombrio demónio ataca-me com inaudita fúria, procurando realizar o que dissera, procurando desarmar-me até à minha aniquilação.

Confuso, limito-me a defender-me de seus golpes, à esquerda e à direita. Sinto-me perdido, sem forças nem iniciativa para tentar eu mesmo um assalto. Como se não mais acreditasse na possiblidade da vitória, e me estivesse a defender sem objectivos nem crenças.

Os seus ataques tornam-se cada vez mais violentos, mais precisos. Sinto-me a fraquejar, sinto as forças a abandonarem-me à medida que a minha crença em mim e no meu mundo se dilui na noite escura.

Subitamente, num movimento imprevisível, a sua lança evita a minha manobra defensiva e atinge-me no braço desprotegido, sem armadura. Desviei-me, mas ainda assim senti a reluzente lâmina rasgar-me a pele. Sangue escorreu pelo meu corpo, caiu em gotas rubras para o chão poeirento.

O demónio sorriu malevolamente perante a visão do sangue.

"Disse-te que seria inútil."

Contemplando a ferida, quedo-me imóvel por instantes. Sinto dentro de mim um turbilhão de sentimentos, de emoções, a girar furiosamente no caos, a confundirem-me, a toldarem a minha visão.

Contemplo a rapariga que de longe me observa, com a mesma expressão nebulosa que a minha, completamente absorvida em si. Por momentos parece que a vejo erguer-se e segurar na sua espada, como se em meu socorro fosse.

Mas não. Foi apenas por momentos. A determinação esvaiu-se-lhe do rosto com o violento relâmpago que naquele instante cruzou os céus de tempestade. Permaneceu ali, com os seus lindos cabelos ao vento, de gládio na mão, a contemplar a batalha com um olhar vazio.

"Desiste agora, Anjo Caído, que ainda poderei ter piedade da tua alma."

Desvio o olhar da doce e misteriosa rapariga e enfrento com olhar fulminante o demónio que tais palavras proferira. Sinto um misto de raiva e desespero invadir-me o espírito. Um impulso para a destruição incendeia-me a alma.

"Não precisarei de tua piedade jamais, vil criatura. Feres-me o corpo com tua lança e a alma com a tua presença. Mas não me derrotaste ainda."

Procuro com estas inseguras e pouco convictas palavras encontrar dentro de mim um ponto de apoio, uma réstea de força que me segure no turbilhão que me assola, devastando-me por dentro.

Passo o dedo pela ferida até o deixar coberto de sangue. Passo-o pela face, por baixo de ambos os olhos, deixando dois grossos e rubros riscos no meu rosto. Pinturas de guerra, do meu próprio sangue. Ergo a minha espada, aponto a lâmina ao paladino maldito e deixando o impulso devastador que me assolava tomar conta de mim, ataco-o impunemente.

(...)

October 18, 2004

[O Lado Negro - Parte II - "Darkness... and Hope?"]

[O Lado Negro - Parte II - "Darkness... and Hope?"]


(...) "O teu tempo de ilusões ofuscantes e traiçoeiras chegou ao fim. Enfrenta agora a tua sombra, que mais não quer que aniquilar-te, ou com ela desce ao Inferno que tu próprio criaste."

Ouço o negro cavaleiro que pronuncia tais palavras e que me fita com um rubro olhar incandescente. Vejo-me nele. Compreendo agora quem ele é, o que ele é.

"Ardentemente desejei que, quando a minha derradeira hora chegasse, ela viesse por algo, demoníaco paladino, e não de algo. E eis que chegas tu, montado em imponente dragão alado que só nos meus mais tenebrosos pesadelos vislumbrei, empunhando a lança da minha fraqueza, querendo esmagar uma alma nos seus próprios medos. Concedes-me o meu desejo, então. Não tendo por quem lutar que não por mim, ergo a minha espada e combater-te-ei até que um de nós sucumba."

O sinistro demónio sorriu, o seu olhar brilhou com maior intensidade.

"Somente um louco se não renderia a tamanho poder. Desejarás ter-me dado a tua vida perante o sofrimento que te aguarda, Anjo Caído."

"Dar-te-ei a minha vida se assim tiver de ser, Criatura das Trevas. Mas dar-te-ei o Inferno antes disso."

Ergo a minha espada aos céus opacos iluminados por fulgurantes relâmpagos que na afiada lâmina se reflectem. Preparo-me para a luta, para a derradeira luta, em que nada mais resta que não eu e o maligno demónio que me desafia.

Foi quando a vi.

Solitária naquele campo de batalha desolador, não muito longe do local onde me encontrava, rodeada por destroços de batalhas esquecidas, uma jovem e invulgarmente bela rapariga com uma expressão intimidada observava o combate mortal que ali se preparava. Parecia pelo seu olhar triste e todavia fascinante que compreendia a luta que o anjo caído travava com o seu próprio demónio, mas mantinha-se à parte, perdida em dúvidas, aguardando algo que talvez nem ela própria soubesse bem o quê.

Contemplo-a à luz ofuscante dos relampâgos. Jamais alguém me pareceu tão radiante, tão bela, tão... Desejo que ela se junte a mim, que me ajuda a combater o meu demónio, o meu medo... mas parece imersa na sua própria guerra. Limita-se a ver. Será isso um sinal..?

A lança coruscante do negro paladino corta subitamente o gélido vento de Sul naquele que foi o primeiro ataque da minha guerra. Defendo-me. A lâmina afiada da sua lança embate violentamente na minha espada, lançando para a atmosfera os seus próprios relâmpagos.

A batalha por mim começou.

(...)

October 17, 2004

(untitled)

... porque hoje me sinto assim...



it's. oh. so quiet
it'a oh. so still
you're all alone
and so peaceful until...

you fall in love
zing boom
the sky up above
zing boom
is caving in
wow bam
you've never been so nuts about a guy

you wanna laugh you wanna cry
you cross your heart and hope to die
'til it's over and then
it's nice and quiet
but soon again
starts another big riot

you blow a fuse
zing boom
the devil cuts loose
zing boom
so what's the use
wow bam
of falling in love

it's. oh. so quiet
it's. oh. so still
you're all alone
and so peaceful until...

you ring the bell
bim bam
you shout and you yell
hi ho ho
you broke the spell
gee. this is swell you almost have a fit
this guy is "gorge" and i got hit
there's no mistake this is it

'til it's over and then
it's nice and quiet
but soon again
starts another big riot

you blow a fuse
zing boom
the devil cuts loose
zing boom
so what's the use
wow bam
of falling in love

the sky caves in
the devil cuts loose
you blow blow blow blow blow your fuse
when you've fallen in love

ssshhhhhh...

Boa noite!

(ao som de "It's oh so quiet", Björk)

October 16, 2004

[O Lado Negro - Parte I - "Fearsome Demon"]

Escrevi este texto há muito tempo atrás, num tempo muito particular da minha existência. Foi publicado no darkside, e, atrevo-me a dizer, foi o melhor artigo que jamais publiquei online. A história tem seis partes... hoje deixo-vos a primeira. Não que a situação actual seja de modo algum similar ao momento da concepção deste texto. Mas porque é sempre bom recordar...

[O Lado Negro - Parte I - "Fearsome Demon"]


Demónio.


Um negro demónio, envergando uma armadura de trevas, emerge das profundezas de revoltosos infernos e ergue-se com o seu dragão alado na noite gelada, cortando a sua melancolia com os seus gritos arrepiantes.


Um sombrio paladino armado com demoníaca lança sobrevoa com imponência e majestade o campo de batalha que abaixo de si se revolve com inaudito terror, sem armas para combater tão portentosa criatura.


Sem reacção, quedo-me imóvel perante tão prodigiosa visão, enquanto à minha volta todos os meus companheiros da batalha recentemente ganha debandam, procurando refúgio contra o mal que tal portador anuncia à sua passagem, à medida que se lança sobre aquela guerra interrompida.


Detém-se diante de mim. E eis que ficamos, eu, ele e o seu maléfico dragão, sozinhos frente a frente naquele ermo esquecido cortado pelos frios ventos do desconhecido Sul.


"Tenebroso cavaleiro de corcel alado, de que infernais profundezas vens, envolto em tão magoada dor, para me assaltares sem aviso nesta guerra que te não pertence?"


"Venho de lugar algum que não de ti, pois que sou feito de nada mais que as tuas mágoas, os teus medos, os teus ódios, Anjo Caído. Ergo-me das tuas profundezas sombrias para comigo te levar para as trevas, pois que outro caminho não escolhes tu. O teu tempo de ilusões ofuscantes e traiçoeiras chegou ao fim. Enfrenta agora a tua sombra, que mais não quer que aniquilar-te, ou com ela desce ao Inferno que tu próprio criaste."


2 de Maio de 2004

October 14, 2004

[between nothingness and dreams - staring at the dark horizon]

[between nothingness and dreams - staring at the dark horizon]


(...)

"It has been a while since the last time we talked. How are you? Suppose many things must have happened since then..."

"Yeah... think you can say that..." (sigh)

"You seem... sad, somehow... what's up? I was hoping to find you quite better... and you seem to be, though you still have the same glimpse of sadness in your eyes."

"It all happened as I was expecting. But things didn't happen naturally... I forced them..."

"What do you mean, you forced them?"

"A month has passed. After the fall, I tried by all means to raise myself, to convince myself that I'd be all right..."

"I don't know if that was the right thing to do... some things can't be forced, can't be pushed... they simply have to happen. We cannot expect to forget someone we love in a heartbeat... it takes time."

"I know that. I mean, I thought I knew that. I just... you see, I thought I knew that path. Everything seemed so... fucking equal, so... ironic... I just didn't wanna repeat the same mistakes once again..."

"That's not necessarly bad, you know."

"Right. But it becomes bad when, in the rush not to repeat the same mistakes, you made others..."

"That's what you did..?"

"No... Yes... (sigh) I don't know... Perhaps. I know I wasn't the only one who made mistakes, but I am responsible for my own... "

"I see. Let me ask you something: do you regret what you did?"

(silence)

"In a way... I do. Perhaps I've just reacted in a selfish way... I didn't want that to happen, really, I didn't. It was the last thing I wanted. But... I just couldn't handle it. I just couldn't see everything falling apart... I just can't..."

"But now you're not sure anymore if everything was indeed falling..."

"It was. That I am sure. It was falling. What I'm not sure is if... it could be saved or not. Anyway, I'll never know it... now it's too late for that."

"It might not be too late already. You can't be sure of that."

"And I guess I will never be... but I'd rather think that way... that it is too late... it is always too late..."

(...)

October 11, 2004

[snowblind]

[Snowblind]

"My eyes are blind but I can see
The snowflakes glisten on the tree
the sun no longer sets me free
I feel there's no plece freezing me..."



Night. I woke up with the sudden blow of a water drop in my face. Tears of darkness, perhaps..?

I open my eyes. Where am I? Nowhere to be found, for sure. All I can see is a wide, frozen wasteland. No life. Only ghosts, silent shadows vanishing in the mists of night.

Shadows of the past. And where is that past now? Gone... lost into the darkness in a heartbeat.

I remembered it. I remember that night... that crystal sky with exploding stars... I remember the moonlight reflected in the great ocean... I remember the sound of the waves crashing on the ancient rocks... I remember the Morning Star, the everlasting gift of love where two souls used to be together...

No longer.

I closed my eyes for just a second and when I opened them again, I saw everything falling apart. Everything. My world has fallen apart right in front of me and there was nothing I could do. War suddenly raged on and I lost.

As I always lose.

Now, all that I've left are the ruins of my old world. Once again, I took the fall. Once again, I fell from heaven and survived the impact. And, once again, I wonder why the hell have I survived.

No matter. It's all gone now. It's all lost...

"Crystal worlds with winter flowers
Turns my day to frozen hours
Lying snowblind in the sun
Will my ice age ever come?"

(it already has...)

October 09, 2004

[a rainy day filled with light - an ode to someone - no matter the song, since it's Linkin Park]

[a rainy day filled with light - an ode to someone - no matter the song, since it's Linkin Park]


Hoje voltei a ver-te.


Em circunstâncias diferentes, como bem sabes. Mas igualmente giro, como sempre são, para mim, os momentos que passamos juntos. Deu para conversar, para nos conhecermos melhor.


Devo confessar que me surpreendeste. Aliás, sempre que estivemos juntos me surpreendeste. A forma como nos conhecemos foi... invulgar, digamos, a coincidência dos nossos anteriores encontros também. Mas desta vez foi diferente. Fiquei a conhecer-te mais profundamente, a um nível que jamais havia imaginado.


Surpreendeste-me, é verdade. Não me desiludiste - muito pelo contrário. Admiro-te mais ainda agora, que me deixaste ver algo diferente nos teus olhos, que me mostraste mais de ti - um pouco a custo, eu sei. Mas é normal.


Mentir-te-ia se dissesse que a minha imagem de ti permaneceu inalterada. Mas não escureceu; ao invés, tornou-se ainda mais brilhante. Admiro-te por tudo aquilo que me disseste, por mais do que isso, muito mais. Por a tua força, por a tua coragem. Por perceber que és uma daquelas raras pessoas com quem não consigo esgotar assunto... sinto que ficou tanto por dizer, nesta curta tarde! Admiro-te por seres a amiga que tens sido, que és e que irás continuar a ser. Por teres uma palavra inteligente a dizer.


Por seres sempre tu mesma.


(à Ana, à minha companheira de horas de música, que conseguiu fazer esquecer um enorme cansaço e tornar um dia cinzento num dia radiante... um grande e doce beijo*)

October 06, 2004

what it was and what it is - shifting realities, bleeding illusions, a mind filled with anger - an ode to no one

[what it was and what it is - shifting realities, bleeding illusions, a mind filled with anger - an ode to no one]



Sorry. Can't avoid thinkin' about it. Everytime the past becomes present on my goddamned mind I step on some details that made me think. Hell. So foolish I was. So naïve.


It is so fucking ironic.


It's somehow curious to see how some once meaningless things suddenly have all the meaning possible in this muthafuckin' world. How some things once refused are now eagerly accepted. How some illusions - some fuckin' illusions! - became real in a heartbeat, bringing oblivion to all realities already present, already real.


Or so I thought.


I see the light. Now I see the goddamn light! Now I see what is, in fact, real. Now I'm seeing the whole picture. Better: as "Trench" said, "I'm starting to see the whole picture". Just startin' just warmin' up. More things to come? Sure thing! Let them come!


Naïve, naïve, naïve. It's what I am. Too bad I've realized this only now. Hell, whatever. It's not too late. It's never too late for us to realize the simplest trues. And - sorry - I've realized this one. No more mistakes, no more deceptions. Time has come for me to stop clouding my mind, thinking that somehow I was wrong. Because I wasn't, goddamn it! I wasn't. I was right all the fuckin' time. And now I know it.


I have been a fool. Well, no longer. Sorry to disappoint you. But now I see the true colors. Your true colors.


Making their words mine:


"What do I feel? What do I say?
Fuck you, and it all goes away.
In the end, it all goes away."


*These are my regards from the darkness: may you rot in Hell.*

October 05, 2004

Sky

Sky



"The sky... the sky is fair. It will always be above everyone's head. No differences."


Dante, to Trish, Devil May Cry


Hello world... it's good to be back!