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May 28, 2005

(a silent disappointment)

(a silent disappointment)

Amizade significa tudo e nada. É nada de concreto, de tangível, como não poderia ser o laço invisível que une dois indivíduos de natureza tão distinta através das distorções de espaço e tempo. Significa tudo quando existe, verdadeira, cristalina como a nascente de um rio por entre fragas de granito. Significa troca, reciprocidade, sem no entanto implicar compromisso formal e absoluto. Significa dedicação sem expectativa. Não esperava que me desses algo em troca, sequer que me agradecesses. Esperava apenas compreendesses porque o fiz. Abdiquei de algo que gostava por alguém de quem gostava (de quem gosto) - mas que é isto para além de amizade? Não o compreendeste, porém, e sei que apenas o aceitaste porque nenhuma escolha se te impôs - era aquele caminho e só aquele. Não havia, como provavelmente nunca houve, segundas intenções de qualquer espécie - era somente amizade. Sei que nada mais para além da pura amizade será possível. Não sentimos o click que faz os corações apaixonados baterem mais forte - infelizmente, diria eu. Diria. Não o sei mais. Desiludi-me. Não o sabes, nem o saberás, porque nunca to direi, e porque não lês as minhas palavras. Dir-te-ia que tudo com o tempo passa. O que é efectivamente verdade - a verdadeira amizade resiste às mais violentas guerras, e se não resistir, é porque afinal já trazia no seu seio a semente da corrupção. Isto passa. Mas por agora, não o consigo evitar.

"Do not walk behind me, I may not lead. Do not walk ahead of me, I may not follow. Just walk beside me and be my friend."

May 27, 2005

(sweet_helly: o teu último comentário deu origem a esta pequena reflexão)

É verdade que nem sempre são os outros que mudam; na verdade, creio até que raras vezes tal sucede, e quando sucede, é por algo extraordinário, imprevisível, que abala todo um mundo desde os seus mais profundos alicerces. A vida é um jogo de ilusões, e existir significa entrar e sair desse jogo muitas mais vezes do que aquelas que conseguimos perceber. Acontece que nem sempre aquilo que vemos é real, pois que nem nós mesmos o somos absolutamente. Ou não sonhamos, imaginamos, devaneamos incessantemente? Por vezes os nossos mais profundos desejos - aqueles que se ligam ao Amor, fundamentalmente - passam do campo do sonho e mergulham no mundo ao qual convencionámos chamar de realidade. E isso faz necessariamente com que vejamos essa realidade com uns óculos de ilusão na fronte. Vemos coisas onde elas não existem, enquanto que a evidência de outras se nos escapa ingenuamente. Entendemos os outros, que nos estão próximos e distantes, de forma diferente, julgando, para o bem e para o mal, que eles são quem nós pensamos (desejamos) que eles são, e não quem eles são de facto. E assim vivemos, e assim nos iludimos. Ad infinitum. E que substitui o vazio de a pessoa que amamos - sim, que amamos - não ser como sempre a vimos, no momento fatal em que os óculos se partem e o sol da intensa tarde nos faz doer a vista? De todo o imenso amor que dentro de nós brotou ser vazio, inútil, uma amálgama pura que num segundo se corrompe e faz doer o coração? Não existe mais quem julgámos amar. Nunca existiu. Foi uma criação nossa, pura e simples; e quem nós vemos não mais será do que uma concha vazia que outrora foi a manifestação física, a personificação de toda a pureza evanescente de sentimento que dentro de nós nasceu de forma inconsciente e infantil. E assim morre um bocadinho de nós, a cada vez que vemos a realidade, a cada vez que damos com aquele rosto que em tempos idos nos pareceu o de um serafim celestial que deixou os céus por nós e que agora não mais é do que uma triste recordação, por muito feliz que a ilusão vivida possa ter aparentado ser. É a nossa sina eterna, que incorporamos não os pecados, mas o castigo de Sisífo. A nossa pedra acaba sempre por rolar até ao fundo.

May 21, 2005

Far, far away

Longe, tão longe...
(inspirado num poema da querida Blueshell)

Voltarás para mim?

Por tanto tempo repeti eu esta pergunta... às ondas do mar que soam ao longe, às estrelas do céu que brilham sobre mim, à brisa suave que passa e embala a terra... e para quê? Horas esquecidas, lágrimas perdidas, tudo por um sonho evanescente que, como a folha da árvore que perdeu a alegria do seu verde primaveril, caiu numa manhã de Outono para não mais se erguer e gritar ao mundo: amo-te!

A noite caiu, nela não brilham estrelas. A Lua escondeu-se em eclipse sem fim. O mar agita-se em revolução silenciosa. A brisa fresca que me embalava em devaneio sossegou numa calma tumular. Não vejo, não ouço. Não sinto. Não te sinto.

Não repito mais a pergunta, nem para mim. A minha voz está rouca de gritar ao vazio. Os meus olhos, secos como a terra árida que me acolhe num sono instável. Nada muda. Já não me ouves...

May 18, 2005

Through the Gates of Hell IX - Thoughts in Chaos

[Through the Gates of Hell IX - Thoughts in Chaos]

"Nada disto faz sentido", digo, confiante, fitando-a a ela e não ao demónio que me ameaçara com as suas palavras cavernosas. "Eu aqui, de espada na mão, a preparar-me para uma luta. Ela não me pertence. Ele", aponto para o demónio com o olhar, "não me pertence. Não é o meu demónio, mas o teu. Não é a mim que cabe lutar contra ele."

Recolho a minha espada e aspiro profundamente o ar fétido das portas do Inferno, como se fosse o ar puro das manhãs cristalinas que recordo. "Deixaste este mundo cair, meu anjo, e quando disso me apercebi, já a chuva de fogo que alastrara nos céus azuis devastava a terra que nos recebera. O Inferno instalou-se no Paraíso, e tu nada fizeste para o combater. Esperaste. Simplesmente esperaste. Que eu acordasse do meu pesadelo para a amarga realidade, que eu me erguesse como outrora e combatesse todos os teus demónios por ti. Não posso. Nem o mais bravo dos guerreiros pode desafiar os demónios de outrém. Se permites a sua presença ao teu lado, não serei eu que não o permitirei. E tu, demónio", digo, fitando-o pela primeira vez, "sabe-lo tão bem quanto eu. Sabes que me não podes impedir. Sabes que me não podes matar. Sabes que as portas que atrás de ti são minhas e que a minha passagem não poderás barrar."

Sorrio, se bem que o sorriso seja amargo como poucos que experimentei. Ignoro-a e ao demónio, encaminho-me na direcção do portal que deste Inferno conduz a parte incerta.

"Então é assim?", pergunta ela, sem para mim se virar, com uma tristeza infinita na voz que a dureza das suas palavras não consegue ocultar. "Partes solitário em direcção ao vazio, sem como nem porquê, e deixas-me sozinha neste inferno que ambos criámos..? Soltas a minha alma aos demónios sem a ajudares a acordar deste pesadelo?"

"Alguém disse em tempos que apenas poderia mostrar a porta", respondo, voltando-me para ela e para o demónio mudo. Com um gesto aponto para a porta. "Ei-la. Eu só te posso mostrar a porta. Tu é que tens de a atravessar; não o posso fazer por ti. Se o demónio fosse meu, desancá-lo-ia até que um de nós perecesse,não duvides. Mas é teu. Não podes esperar que faça aquilo que tu tens de fazer. Se preferes assim... quem serei eu para me erguer contra a tua vontade?"

"A minha vontade é que lutes por mim!", grita ela, já com lágrimas a escorrer-lhe pela face.

Sinto os meus olhos encherem-se também de lágrimas, mas contenho-me. Já dei parte de fraco vezes de mais; chegou a altura de não abdicar de mim. "Jamais te pediria que lutasses por mim. Mas contaria sempre que lutasses comigo. E tu... tu entregaste-te a ele. Acolheste este inferno como teu mundo. Pois eu não. Não me peças que fique aqui, pois que ele não é meu. Não mais."

Volto definitivamente as costas e caminho decidido para os portões dos infernos, procurando alguma lufada de ar fresco que alivie a minha mente do peso magoado que carrega.

May 10, 2005

Outros mundos existem para além da esfera de sensações físicas onde caminhamos oblívios ou à realidade paralela que a mente de cada um de nós projecta nessa tela material. Tenho andado algo longe deste espaço por isso mesmo - perco-me noutro mundo que sem querer ficou ao meu alcance. Creio estar de volta. Talvez não com a regularidade usual, provavelmente a um ritmo um pouco mais espaçado. Mas longe estão os devaneios da minha imaginação de serem constantes, regulares, previsíveis e, acima de tudo, materializáveis neste puro artifício que são as palavras.

[dream denial]

Julguei encontrar-me - encontrar-te - mas continuo perdido. Olho em volta por vezes e sinto-me submerso. E sabes bem como estar submerso me aflige e confunde os meus sentidos. É um receio, uma pulsão incontrolável de algo que desconheço. Aspiro ao infinito, mas temo perder-me nele. Não sei o que sinto. Existe em mim uma amálgama de sentimentos que se opõem furiosamente como se num qualquer campo de batalha inexistente guerreassem ininterruptamente. Não é ódio; receio que se seja amor. Em luta desesperada contra a vontade que ingenuamente julguei tê-lo derrotado há muito tempo atrás. Pois que ingénuo eu sou, por acreditar em mim mesmo.

Fixo as palavras que de ti os meus sentidos recebem e que ousam avançar na tempestade da minha consciência. Leio nelas algo, mas não consigo acreditar. Talvez não queira. Talvez tenha medo. Mas de quê? De ti? Torno-me subitamente num poço de contradições, e toda a filosofia que acerrimamente defendo cai por terra na batida de um coração contrariado. Porque me contrario eu a mim mesmo? A negação é a mais previsível das reacções humanas. Mas se assim o é, porque não fui eu capaz de a prever? Anular?

Sempre defendi a vida enquanto luta. Luta futura, que o passado comporta em si a sua definição. Passou. Ficou para trás. Não posso simplesmente justificar acções presentes à luz de experiências passadas, porque as situações, por muito semelhantes que pareçam, não o são. Tudo muda, minuto a minuto. Ter o passado como guia não pode derivar para ter o passado como mestre. E na luta desesperada para que ele não se repita, os mesmos erros infantis acabam por ser cometidos, as mesmas memórias turvas ofuscam a luz do momento. Estou em guerra, em guerra declarada. Fratricida, mortal.

Desculpa. Não posso lutar por ti - ou contra ti - enquanto não me derrotar a mim mesmo. E não sei se algum dia serei capaz de o fazer sozinho.

May 01, 2005

(...) Não sei onde tudo isto começou. A releitura do tardio acordar, a divagação inconstante a que a mente se devota sem como ou porquê. Sinto hoje que pela primeira vez desde o dia fatídico abri os olhos e vi toda a verdade que se esconde por detrás das mais insignificantes palavras, dos mais pequenos gestos. A verdade simples, pura como um cristal.

Recordo-me de por uma ocasião ter chamado a alguém "criadora de mundos e de utopias", cargo que ela, incendiada no seu espírito rebelde, recusou de imediato. Não o percebia eu na altura como agora. Ela não é, de facto, a criadora. É uma, pois que em todo o ser humano arde a centelha da criação. Cada um de nós é em si um ser uno e indivisível, ainda que fragmentário no seu interior. E desses fragmentos unidos cada um constrói o seu próprio mundo, à sua imagem e semelhança, ainda que aparente moldar-se à forma do dito "mundo exterior", a mais pura das ficções. A realidade não existe. Eu sou a realidade, tal como tu o serás, e assim sucessivamente. Existe um sem-número de realidades, tantas quanto a quantidade de almas que sufocam nesta esfera que navega à deriva no vazio sideral.

Não foi culpa tua. Nem minha. Os mundos constroem-se de dentro para fora; e ambos construímos a nossa realidade. As nossas criações são diferentes, diametralmente diferentes. Procuras o amor no mundo terreno, o conforto material da *realidade* amplamente partilhada. Sonhas, mas o teu sonho tem um alcance. Sabes aquilo que queres e consegues divisar o caminho para lá chegar. Nem sempre podes prever os obstáculos, mas a isso se chama viver. Eu sou diferente. Tudo aquilo que os teus olhos vêem quando olhas em redor significa nada para mim. A minha criação não é daqui nem de agora; é um mundo sem lugar ou circunstância, que não existe senão em mim, no mais profundo do eu ser. Daquele que viste mas que não sentiste. E a culpa não é de ninguém. Somos diferentes, apenas. Criaste o teu mundo, tal como criei o meu. Mas eles tocam-se jamais.

Não pretendo afirmar que o meu mundo é melhor que o teu. São diferentes. Cada um procura o reflexo da sua alma. Há quem procure o reflexo exacto, definindo-se pela harmonia do equilibrio perfeito. Eu sou o conflito, a eterna angústia da não existência nos moldes autoproclamados naturais. Não encaixamos. Não há drama, apenas esta verdade. Somos incapazes de entrar no reino um do outro; para quê então tentar adaptarmo-nos, com o risco de perdermos aquilo que mais intimamente nos define. Não poderemos ser alguma vez verdadeiros com o outro se não o formos connosco mesmos...

Não sei quem és, apesar de saber aquilo que te define. Eu sou eu, a utopia fantástica da imaginação, um anjo caído nas brumas da espiral das realidades, a encarnação de carne e osso e sangue do deus da lua Nitramneadh que eu mesmo criei, e cujo nome alguém como eu que nunca conheci me emprestou. Eu sou Nitramneadh, que morreu por amor a Nifrithe e ao mundo que por esse amor conceberam. Ela partiu, nunca a vi. Um dia hei-de a ver. Sem pressas. O meu mundo não tem tempo. (...)