testing a new face for the old blog. tried other platforms, but no other seemed good enough.

April 26, 2005

[morning glory]

[morning glory]



Não sei se foi cedo ou tarde. No fundo, os imprevistos nunca são bem nem uma coisa nem outra. São, simplesmente.

Sei apenas que foi doce, infinitamente doce quando aconteceu. Foi como se naquela fracção de segundo espaço e tempo caíssem, se dissolvessem em névoa etérea e evanescente. Num segundo o meu coração bateu mais forte, as minhas mãos tremeram como folhas verdes ao vento, a minha racionalidade desvaneceu-se e deu lugar ao mais puro sentimento que jamais brotou dentro de mim e que me consumia com uma força avassaladora. Não sei se vi trevas ou luz. Vi-te a ti. Somente a ti.

Agora não mais te sinto. Ainda assim o meu coração bate por ti. Ainda tremem as minhas mãos, agora como folhas de Outono, a resistir à queda mais que certa. Mas não te sinto, e o doce sabor com que naquela manhã (de sol? de chuva? não sei... e que importa?) os teus lábios presentearam os meus tornou-se amargo como fel.

Passou agora a dominar a racionalidade. Oprime o sentimento de um coração débil, a gritar silenciosamente por ti. Mas não controla a memória. E o sabor do primeiro beijo de amor é impossível de esquecer...

April 22, 2005

[Nostalgia de 25 de Abril]

[Nostalgia de 25 de Abril]


Nunca os vira tão brilhantes. Era como se cada centelha a explodir com estrondo se tornasse numa nova estrela fulgurante, cujo brilho se evaporava no céu da noite no momento seguinte. Jamais me pareceram tão belos como naquela noite. A olhá-los, um mar de gente naquela colina. Mas era como se estivéssemos sozinhos. Só tu e eu, abraçados, a fitar o céu que a cada estouro brilhava de cor.

Até que as explosões cessaram e o céu escureceu. Mas a míriade de cores permaneceu em nós, dentro dos nossos corações.

As cores do nosso amor morreram. E já passou tanto tempo... no entanto, não mais os fogos do céu tiveram o mesmo brilho, a mesma cor, a mesma beleza... a mesma magia...

April 20, 2005

[an empty post for an empty feeling]

[an empty post for an empty feeling]

. . . .

April 15, 2005

Through the Gates of Hell VIII - No Fear nor Hope

[Through the Gates of Hell VIII - No Fear nor Hope]




"Tu nunca estarás livre, guerreiro", diz um voz cavernosa que surge algures das trevas por detrás dela.

Por entre as brumas emerge um demónio. Imenso na sua armadura negra, segurando uma espada na sua enorme mão, fita-me com um olhar ígneo, de fogo vivo. Sorri para mim, altivo, num misto de triunfo e desprezo, e caminha para a guardiã. É mais alto que ela, bem mais.

"Por que vieste tu até aqui?", pergunta. "Entregas-te à morte assim , por ela? Chegas tarde, sombrio paladino. A batalha terminou há muito, e os teus saíram derrotados. Os despojos já foram divididos." Coloca um braço à volta dos seus ombros e olha para mim vitorioso. "Ela agora pertence-me."

Olho para o par, procuro esconder o súbito sabor amargo que me invade a boca. "Não vim por ela, demónio, mas por mim. Somente. E ela não te pertence."

"Achas mesmo que não?"

"Apenas te pertencerá se ela assim o quiser." Olho para ela, procuro na sua expressão carregada algum sinal de resistência, de desejo de libertação. Mas face cuja suavidade e a beleza recordo está neutra, sem medo ou esperança. Conformada, estática, imóvel como uma estátua de pálida porcelana envolta numa armadura de sombras.

Sorrio, indiferente, ainda que triste. Não adianta continuar. Não posso lutar para a salvar das garras do demónio. Não sozinho. E, ainda que tentasse, ela não lutaria ao meu lado.

Nada me resta aqui.

"Não importa", digo, procurando afastar-me destes pensamentos. "Como lhe disse, estou apenas de passagem. Vou sair, para fora deste inferno."

"Julguei que ela já te tinha dito que não podes sair do inferno, paladino", diz o demónio, por entre uma gargalhada malévola.

"Ela disse", respondo, fitando-o nos olhos apesar de ser bem mais alto que eu. "Mas isso não me impede. Vou sair daqui, de uma maneira ou de outra. A bem", digo, desembainhado a minha espada, "ou a mal."

(continua)

(imagem de Luis Royo)

April 10, 2005

Moment's song #07: "Hello", Evanescence

[Moment's song #07: "Hello", Evanescence]



Playground school bell rings again,
Rain clouds come to play again,
Has no one told you she's not breathing?
Hello, I'm your mind giving you someone to talk to...
Hello...


If I smile and don't believe,
Soon I know I'll wake from this dream.
Don't try to fix me, I'm not broken.
Hello, I'm the lie living for you, so you can hide.
Don't cry...


Suddenly I know I'm not sleeping...
Hello, I'm still here,
all that's left of yesterday...

(to everyone who tonight is exactly as i am. Alone. Sad. Dead..?)

(picture by Rob Alexander)

April 06, 2005

Through the Gates of Hell VII - Fallen Love

[Through the Gates of Hell VII - Fallen Love]




"Que estás tu aqui a fazer?"

As palavras, algo surpreendidas, algo frustradas, no seu tom estranhamente familiar, fazem-me parar. Detenho-me diante dos portões do Inferno que finalmente encontrei, olho nos olhos de quem as proferiu. Espanto invade todo o meu ser. Deuses, como são parecidas..! O mesmo olhar enigmático e triste, banhado em azul, o primeiro azul que neste mundo maldito vejo... mas não, não pode ser ela.

Nunca poderia ela ter-se tornado na guardiã do Inferno, numa das marionetas da morte. Nunca poderia o seu corpo alvo, esbelto e frágil envergar aquela armadura negra, ou as suas mãos delicadas segurar tamanha espada envenenada. Nunca poderia o seu sorriso de cristal tornar-se naquele esgar amargurado que vejo no seu rosto soturno.

"Estou a sair, apenas", respondo secamente, procurando que a guardiã não perceba quão familiar é a sua face aos meus olhos, ou como me lembra ela alguém que perdi no dia em que este mundo de fogo incinerou o meu paraíso... "Este não é o meu lugar... Vou partir."

"Não, não vais."

"E porque não?"

"Porque nunca tal permitirei."

O seu olhar azul endurece, enche-se de um ódio que eu nunca vira antes. Compreendo que ela fala a sério, e que pretende mesmo não me deixar passar. Levo a mão à minha própria espada, mas não a desembainho. "Que raio queres tu dizer, Guardiã? Porquê isto tudo?"

"Não podemos deixar-te partir", diz ela, com uma ponta de emoção na voz que a sua frieza não consegue disfarçar. "És demasiado importante para nós."

"Para nós?", pergunto, aproximando-me dela para a olhar nos seus olhos mais de perto. "Queres dizer para o Inferno? Ou será porventura apenas para ti, Guardiã?"

Engolindo em seco, ela desembainha a sua espada e encosta o gume afiado à minha garganta. "Não irás."

"Porquê? Não achas que já aqui estive demasiado tempo? Não achas que já sofri demasiado neste inferno? Não te passa pela cabeça aquilo por que passei até chegar aqui!"

"E tu", diz ela, quase cuspindo as palavras com fúria, "terás tu alguma ideia de como vim eu aqui parar? De como me tornei eu nisto..? Acaso terás tu alguma noção daquilo por que terei passado neste tempo todo?"

Então é mesmo ela..! Deuses, não, como pode ser? Como pode tão radiante criatura ter-se tornado neste... demónio? Ou seria esta a sua verdadeira forma, que os meos olhos cegos se recusaram a ver durante todo o tempo? Não, não posso acreditar... não pode ser...

"Que... que aconteceu?"

A sua boca abre-se como se fosse dizer algo, mas nenhum som sai por entre os seus lábios sensuais. "Não... não quero falar disso", diz, por fim, a custo. "Isto não é sobre mim, mas sobre ti."

"Seja", digo eu, decidido. "Não será então um problema meu. Agora baixa a tua espada, Guardiã. Eu vou partir, de uma forma ou de outra. Se insistires nesta insanidade, terás de me matar, o que não serviria de todo os teus sinistros interesses. Mas eu - eu estaria livre."

(continua)

(imagem por Luis Royo)

April 03, 2005

[Through the Gates of Hell VI - The Path Without a Name]

[Through the Gates of Hell VI - The Path Without a Name]



Gostava de olhar para os céus e de ver as estrelas, como dantes as via, ou a Lua... a grande Lua, a tornar o mar da cor da prata, a tornar o infinito oceano num espelho de cristal. Gostava de voltar a sentir aquele vento fresco no rosto, de sorrir à noite luminosa e senti-la como só minha. Gostava de caminhar sem rumo, sem destino, e saber que onde quer que os meus passos algo trôpegos me levassem, me iria sentir bem. Gostava de saber que este mundo era o meu lugar.

Tenho saudades. Saudades até do tempo em que me assustava com as sombras.

Aqui, no coração das trevas, não há sombras. Aqui a luz não subsiste; nem os malévolos relâmpagos têm lugar. Aqui é a eterna penumbra, a eterna incerteza. Presentes, apenas os inconstantes fantasmas que insistem em assolar o meu caminho.

Estou, uma vez mais, sozinho. Ela partiu, seguiu o seu caminho. Sonhará com o nosso reencontro? Possível, ainda que improvável. Assim é a natureza do inferno: rouba da alma as emoções para as projectar algures na penumbra. Para criar fantasmas malignos, quando a sua essência era verdadeira e pura. Não sei se a voltarei a ver. Nem sei se sonho com isso. Ainda sonho?

Quem sois vós, demónios silenciosos que me fitam com olhar malévolo das trevas do caminho? Porque permaneceis quietos e calados na penumbra, assombrando o caminho, sem me tocarem, sem me pararem? Acaso me temeis, a mim e à espada que nem por um segundo a minha mão solta? Ou apenas esperais o momento certo para a emboscada?

Entretanto o céu muda. Não sei o quê; mas de alguma forma a sua tonalidade muda. Pode ser apenas ilusão dos meus olhos cansados, ou miragem do meu desejo ardente. Mas, algures em mim, bem nas profundezas do meu ser, sinto que a cada passo no acaso deste solo duro e árido, estou mais próximo da saída deste pesadelo...

(continua)

("Dart Moor"; imagem por Rob Alexander)