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January 10, 2005

[loneliness...]

[loneliness...]


"(...) Mas é precisamente isso que as pessoas não percebem. Não sei, parecem ter medo de estar sozinhas. É certo que há solidão e solidão. Mas não raras as vezes é positivo, para nos encontrarmos a nós mesmos. Para pensarmos. Pensarmos, imagine-se! Quantos daqueles que vivem na frenética agitação desta cidade reservam para si algum tempo para pensar?"

Olho para trás e percebo que alguns dos melhores momentos que passei nesta cidade, desde que para cá vim, passei-os sozinho. A caminhar pelas ruas, de dia ou de noite, deambulando mais ou menos ao acaso, atento às sombras do caminho mas sentindo a minha mente dissolver-se na etérea neblina que sempre a envolve; sentado à janela do meu quarto, com o agradável frio da noite no rosto, dissolvendo na escuridão as quentes baforadas do cigarro, fitando por tempo indefinido a cidade nocturna, embalado pelos seus ruídos silenciosos... melancólico, sempre, triste por vezes, com alguma lagrima mais obstinada a soltar-se... feliz, outras, com um leve sorriso desenhado no rosto e uma agradável sensação de apaziguamento a tomar conta de mim...

Magoa, por vezes, naqueles momentos em que nos sentimos no limiar, em que precisamos desesperadamente de materializar em palavras o turbilhão que nos devasta e consome a alma, e à nossa volta não está ninguém... ninguém para nos impedir de naquele momento de loucura cortarmos os próprios pulsos, ninguém para nos estender a mão, para dizer uma palavra amiga ou para nos dar uma lição de vida... impõe-se, a solidão, devasta-nos, afunda-nos no pântano que nós mesmos criamos. Mas também nos acalma, por vezes. Ouve-nos, em surdina, confere uma liberdade única à nossa mente, torna-se por magia numa tela branca que a nossa imaginação pode colorir como pretender...

Tenho-te por companhia, já, que há muito que a ti me habituei, na ausência das pessoas que nunca estão presentes, que optaram por se afastar, ou que a vida, para o bem e para o mal, afastou... não te imagino diferente, agora. Temi-te, por anos e anos. Não mais. No fundo, que és tu, senão a única confidente de absoluto silêncio, uma das poucas certezas que temos nesta evanescente existência..?

(imagem de Dorian Cleavenger)

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