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January 20, 2005

[a forsaken past... veiled behind the blood red sky]

[a forsaken past... veiled behind the blood red sky]


Não sei como aconteceu. Não fez sentido, ou pelo menos não me parece a mim que tenha feito sentido. Mesmo tendo sido natural, espontâneo, entre dois risos cúmplices de quem partilha uma confidência. Motivado, talvez, pelo ambiente que nos envolvia, folia etérea que pairava no ar, incognoscível a todos os outros sentidos que não aquela sensação interior que não raras vezes nos diz mais da nossa realidade do que a nossa experiência empírica.

Recordo-me de cair. De mergulhar subitamente no vazio, numa vastidão de nada que não percebi de onde surgiu. Uma sensação estranha tomou conta do meu corpo inerte, senti energia e força abandonarem-me. A minha mente estilhaçou-se em milhões de fragmentos translúcidos que se espalharam no vazio à minha volta. Recordo-me de me esforçar para a manter unida, coesa, de procurar sentir... simplesmente sentir...
Recordo-me do céu, não negro mas carmesim, com uma vasta lua de sangue a iluminar as trevas da noite com rubra luminescência. Contemplava-a por entre a vasta janela em ogiva do quarto deste castelo de pedra antiga... como fui ali parar..?

Estavas comigo. Sentada à cabeceira da cama, fitavas-me com um olhar alucinado, como nenhum outro que jamais tivesse visto em ti. Interrogavas-me, evocavas à luz de sangue um passado que não soube sequer que existiu. Mas que foi e é presente, materializado numa possibilidade remota que há muito esqueci, se é que alguma vez verdadeiramente senti...

Emudeci, angustiado e inerte, sem conseguir fazer ou dizer o que quer que seja. Amas-me, disseste a soluçar, mas não o aceitas, como não querias aceitar que o não sentisse. Choraste, como se fosse pela primeira vez, senti o sal das tuas lágrimas dissolver-se na minha pele... fechei os olhos, quebrei o esforço para manter a minha consciência, deixei-me desvanecer na rubra bruma daquela invulgar noite... senti que me deixaste, rumo à tua própria solidão. Ouvi-te ainda, ao longe, muito longe... apenas a Lua, a lua de sangue feita era real para mim naquele momento em que a minha realidade perdeu o pouco sentido que lhe restava... em que apenas queria esquecer... esquecer...

E, por mais uma vez, desejei, de forma ardente e sanguinária, obliterar todo o meu mundo... definitivamente...

(imagem de autor desconhecido)

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