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May 01, 2005

(...) Não sei onde tudo isto começou. A releitura do tardio acordar, a divagação inconstante a que a mente se devota sem como ou porquê. Sinto hoje que pela primeira vez desde o dia fatídico abri os olhos e vi toda a verdade que se esconde por detrás das mais insignificantes palavras, dos mais pequenos gestos. A verdade simples, pura como um cristal.

Recordo-me de por uma ocasião ter chamado a alguém "criadora de mundos e de utopias", cargo que ela, incendiada no seu espírito rebelde, recusou de imediato. Não o percebia eu na altura como agora. Ela não é, de facto, a criadora. É uma, pois que em todo o ser humano arde a centelha da criação. Cada um de nós é em si um ser uno e indivisível, ainda que fragmentário no seu interior. E desses fragmentos unidos cada um constrói o seu próprio mundo, à sua imagem e semelhança, ainda que aparente moldar-se à forma do dito "mundo exterior", a mais pura das ficções. A realidade não existe. Eu sou a realidade, tal como tu o serás, e assim sucessivamente. Existe um sem-número de realidades, tantas quanto a quantidade de almas que sufocam nesta esfera que navega à deriva no vazio sideral.

Não foi culpa tua. Nem minha. Os mundos constroem-se de dentro para fora; e ambos construímos a nossa realidade. As nossas criações são diferentes, diametralmente diferentes. Procuras o amor no mundo terreno, o conforto material da *realidade* amplamente partilhada. Sonhas, mas o teu sonho tem um alcance. Sabes aquilo que queres e consegues divisar o caminho para lá chegar. Nem sempre podes prever os obstáculos, mas a isso se chama viver. Eu sou diferente. Tudo aquilo que os teus olhos vêem quando olhas em redor significa nada para mim. A minha criação não é daqui nem de agora; é um mundo sem lugar ou circunstância, que não existe senão em mim, no mais profundo do eu ser. Daquele que viste mas que não sentiste. E a culpa não é de ninguém. Somos diferentes, apenas. Criaste o teu mundo, tal como criei o meu. Mas eles tocam-se jamais.

Não pretendo afirmar que o meu mundo é melhor que o teu. São diferentes. Cada um procura o reflexo da sua alma. Há quem procure o reflexo exacto, definindo-se pela harmonia do equilibrio perfeito. Eu sou o conflito, a eterna angústia da não existência nos moldes autoproclamados naturais. Não encaixamos. Não há drama, apenas esta verdade. Somos incapazes de entrar no reino um do outro; para quê então tentar adaptarmo-nos, com o risco de perdermos aquilo que mais intimamente nos define. Não poderemos ser alguma vez verdadeiros com o outro se não o formos connosco mesmos...

Não sei quem és, apesar de saber aquilo que te define. Eu sou eu, a utopia fantástica da imaginação, um anjo caído nas brumas da espiral das realidades, a encarnação de carne e osso e sangue do deus da lua Nitramneadh que eu mesmo criei, e cujo nome alguém como eu que nunca conheci me emprestou. Eu sou Nitramneadh, que morreu por amor a Nifrithe e ao mundo que por esse amor conceberam. Ela partiu, nunca a vi. Um dia hei-de a ver. Sem pressas. O meu mundo não tem tempo. (...)

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