Outros mundos existem para além da esfera de sensações físicas onde caminhamos oblívios ou à realidade paralela que a mente de cada um de nós projecta nessa tela material. Tenho andado algo longe deste espaço por isso mesmo - perco-me noutro mundo que sem querer ficou ao meu alcance. Creio estar de volta. Talvez não com a regularidade usual, provavelmente a um ritmo um pouco mais espaçado. Mas longe estão os devaneios da minha imaginação de serem constantes, regulares, previsíveis e, acima de tudo, materializáveis neste puro artifício que são as palavras.
[dream denial]
Julguei encontrar-me - encontrar-te - mas continuo perdido. Olho em volta por vezes e sinto-me submerso. E sabes bem como estar submerso me aflige e confunde os meus sentidos. É um receio, uma pulsão incontrolável de algo que desconheço. Aspiro ao infinito, mas temo perder-me nele. Não sei o que sinto. Existe em mim uma amálgama de sentimentos que se opõem furiosamente como se num qualquer campo de batalha inexistente guerreassem ininterruptamente. Não é ódio; receio que se seja amor. Em luta desesperada contra a vontade que ingenuamente julguei tê-lo derrotado há muito tempo atrás. Pois que ingénuo eu sou, por acreditar em mim mesmo.
Fixo as palavras que de ti os meus sentidos recebem e que ousam avançar na tempestade da minha consciência. Leio nelas algo, mas não consigo acreditar. Talvez não queira. Talvez tenha medo. Mas de quê? De ti? Torno-me subitamente num poço de contradições, e toda a filosofia que acerrimamente defendo cai por terra na batida de um coração contrariado. Porque me contrario eu a mim mesmo? A negação é a mais previsível das reacções humanas. Mas se assim o é, porque não fui eu capaz de a prever? Anular?
Sempre defendi a vida enquanto luta. Luta futura, que o passado comporta em si a sua definição. Passou. Ficou para trás. Não posso simplesmente justificar acções presentes à luz de experiências passadas, porque as situações, por muito semelhantes que pareçam, não o são. Tudo muda, minuto a minuto. Ter o passado como guia não pode derivar para ter o passado como mestre. E na luta desesperada para que ele não se repita, os mesmos erros infantis acabam por ser cometidos, as mesmas memórias turvas ofuscam a luz do momento. Estou em guerra, em guerra declarada. Fratricida, mortal.
Desculpa. Não posso lutar por ti - ou contra ti - enquanto não me derrotar a mim mesmo. E não sei se algum dia serei capaz de o fazer sozinho.
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