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May 18, 2005

Through the Gates of Hell IX - Thoughts in Chaos

[Through the Gates of Hell IX - Thoughts in Chaos]

"Nada disto faz sentido", digo, confiante, fitando-a a ela e não ao demónio que me ameaçara com as suas palavras cavernosas. "Eu aqui, de espada na mão, a preparar-me para uma luta. Ela não me pertence. Ele", aponto para o demónio com o olhar, "não me pertence. Não é o meu demónio, mas o teu. Não é a mim que cabe lutar contra ele."

Recolho a minha espada e aspiro profundamente o ar fétido das portas do Inferno, como se fosse o ar puro das manhãs cristalinas que recordo. "Deixaste este mundo cair, meu anjo, e quando disso me apercebi, já a chuva de fogo que alastrara nos céus azuis devastava a terra que nos recebera. O Inferno instalou-se no Paraíso, e tu nada fizeste para o combater. Esperaste. Simplesmente esperaste. Que eu acordasse do meu pesadelo para a amarga realidade, que eu me erguesse como outrora e combatesse todos os teus demónios por ti. Não posso. Nem o mais bravo dos guerreiros pode desafiar os demónios de outrém. Se permites a sua presença ao teu lado, não serei eu que não o permitirei. E tu, demónio", digo, fitando-o pela primeira vez, "sabe-lo tão bem quanto eu. Sabes que me não podes impedir. Sabes que me não podes matar. Sabes que as portas que atrás de ti são minhas e que a minha passagem não poderás barrar."

Sorrio, se bem que o sorriso seja amargo como poucos que experimentei. Ignoro-a e ao demónio, encaminho-me na direcção do portal que deste Inferno conduz a parte incerta.

"Então é assim?", pergunta ela, sem para mim se virar, com uma tristeza infinita na voz que a dureza das suas palavras não consegue ocultar. "Partes solitário em direcção ao vazio, sem como nem porquê, e deixas-me sozinha neste inferno que ambos criámos..? Soltas a minha alma aos demónios sem a ajudares a acordar deste pesadelo?"

"Alguém disse em tempos que apenas poderia mostrar a porta", respondo, voltando-me para ela e para o demónio mudo. Com um gesto aponto para a porta. "Ei-la. Eu só te posso mostrar a porta. Tu é que tens de a atravessar; não o posso fazer por ti. Se o demónio fosse meu, desancá-lo-ia até que um de nós perecesse,não duvides. Mas é teu. Não podes esperar que faça aquilo que tu tens de fazer. Se preferes assim... quem serei eu para me erguer contra a tua vontade?"

"A minha vontade é que lutes por mim!", grita ela, já com lágrimas a escorrer-lhe pela face.

Sinto os meus olhos encherem-se também de lágrimas, mas contenho-me. Já dei parte de fraco vezes de mais; chegou a altura de não abdicar de mim. "Jamais te pediria que lutasses por mim. Mas contaria sempre que lutasses comigo. E tu... tu entregaste-te a ele. Acolheste este inferno como teu mundo. Pois eu não. Não me peças que fique aqui, pois que ele não é meu. Não mais."

Volto definitivamente as costas e caminho decidido para os portões dos infernos, procurando alguma lufada de ar fresco que alivie a minha mente do peso magoado que carrega.

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