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March 22, 2005

[Through the Gates of Hell III - Demons of the Past, Prophecies of the Future]

[Through the Gates of Hell III - Demons of the Past, Prophecies of the Future]



"Tu. Aqui."

Volto-me para trás, para a voz grave que interrompe o silêncio da planície desolada, deparo-me com ele. Com ele. Sorrio, amargamente, e nada lhe digo.

"Quem diria que te iria encontrar aqui", diz ele, caminhando devagar na minha direcção, com um sorriso enigmático desenhado nos lábios negros. Não enverga o elmo que em tempos lhe conheci, vejo-lhe o rosto pela primeira vez; e, no entanto, é como se o rosto que vejo me fosse familiar, estranhamente familiar, demasiadamente familiar. Como o rosto enigmático que tantas e tantas vezes vi reflectido no espelho... "O mundo é realmente um lugar pequeno, e a vida, um imenso mar de ironias."

"Fica onde estás", ordeno-lhe, em tom ríspido, com a mão na minha espada mas sem a desembainhar. "Já te derrotei uma vez, demónio, lembras-te? Posso fazê-lo outra vez."

"Podes, evidentemente". O cavaleiro negro ri-se com desdém, após a breve divagação que o seu olhar faz até ao passado, até àquela fatídica noite. "No entanto, e apesar de desta vez não ter o meu dragão, seria bom que te lembrasses de que estás agora no Inferno - este é o meu mundo."

"Errado. Este é o meu mundo. Apenas foi... consumido. Pelo teu." As palavras custam a sair, como custa a aceitar a derrota que foi a perda de todo este mundo. O paladino das trevas ri-se.

"É a mesma coisa."

"Não importa", respondo-lhe. "Que queres tu? Lutar? Seja, então. Terei menos piedade desta vez. Afinal, nada aqui há a perder, não é?"

"Não vim para lutar", apressa-se o cavaleiro negro, quando começo a desembainhar a espada. "Já não me interessa derrotar-te, pois que derrotado já estás. Não desceste aos infernos comigo, mas os infernos subiram até ti. Vim até aqui para falar-te."

Olho para ele - para mim - de forma desconfiada. "Que poderias ter tu para me dizer, maldito, que me pudesse interessar?"

"Estás à procura do caminho, não é?", pergunta-me ele, subitamente sério. "Das portas do Inferno? Não vim para me intrometer. Apenas para te dizer que tenhas cuidado."

"E desde quando te preocupas tu comigo?"

"Não me preocupo. Apenas me quero divertir. E vou-me divertir, quando a encontrares."

"Quando a encontrar?", interrogo-me. O cavaleiro negro ri-se, dá meia volta e começa a caminhar para longe. "Quando encontrar quem? Quem é ela?"

O paladino susteve-se e olhou para mim pela última vez, antes de desaparecer nas trevas. "Tu verás. Apenas tem cuidado quando a vires. E quando isso acontecer, vais ver que este lugar tem mais que ver contigo do que aquilo que alguma vez imaginaste."

(continua)

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