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December 04, 2004

[the last run, the last stand, the last fight - for there are somethings that simply cannot be changed]

[the last run, the last stand, the last fight - for there are somethings that simply cannot be changed]


Gotas frias caem dos céus nublados, batem-me no rosto. Ignoro-as. Continuo a andar, indiferente à chuva, ao frio, à escuridão cortada pela pálida lua que espreita por entre as nuvens opacas no limiar do horizonte.

Encontro-a, por fim, num lago imenso. Imóvel, contempla os céus de amena tempestade com um olhar vazio, uma expressão etérea, tão etérea como ela própria. Está diferente. Perdeu a sombra - talvez por estar num mundo de sombras? Ó seu olhar tornou-se sonhador, distinto do que antes conheci mas igualmente belo. Não se apercebe da minha presença, ou pelo menos finge não se aperceber.

"Parece que desta vez sou eu que interrompo a tua solidão."

Ela sorri vagamente, sem se virar para mim. "Não propriamente. Esperava que aparecesses, mais cedo ou mais tarde."

Aproximo-me dela, fico ao seu lado. Contemplo a distante lua. Por segundos, ambos nos quedamos imóveis, silenciosos. O vento sopra, suave, frio, como um suspiro.

"Ajuda-me", digo-lhe, por fim.

"Estás perdido, não é?", pergunta-me ela, olhando para mim. Sei que ela sabe exactamente o que se passa comigo, apesar de não fazer a mais pequena ideia como. "Pensaste, fugiste, enganaste-te... e agora cais em ti, olhas para trás e percebes tudo. Olhas para a frente... e não percebes nada."

Rio-me amargamente. "Precisamente..."

"O que vês tu, quando olhas para trás?"

"Vejo uma perda tremenda. Silêncio. Um silêncio onde nada foi dito, mas devia."

"E quando olhas para a frente..?"

Não respondo.

Num gesto suave, ela estende a mão para o meu peito e segura o cristal incandescente. "Não vês nada quando olhas para a frente porque não há lá nada para veres. Mas tu sabes o que podes ver, assim como o que não poderás ver. Já deste o passo mais importante, que foi assumires isso para ti."

"E como sabes tu isso?", pergunto-lhe quase instantaneamente.

"Se assim não fosse", responde ela, com um sorriso, "não estarias aqui, agora."

Desvio o olhar, volto a fitar a lua, angustiado perante a revelação de mim mesmo nos seus lábios sensuais, na sua voz doce. Não percebo como.

"Há coisas que simplesmente não podem ser mudadas", continua ela. "Não importa se lutamos contra elas ou se fugimos delas para o mais longe possível... elas permanecem, ainda que nas sombras, até que voltam a emergir. Por mais que as queiramos recusar."

"Então e que posso eu fazer?"

"A escolha é tua, como sempre o foi, talvez. Podes fazer o que quiseres."

"Não será tarde demais?"

"Só o saberás se tentares."

"E será que devo?"

"Segue o teu coração, planeswalker. Ele estará certo. E lembra-te da tua própria filosofia: é melhor te arrependeres de algo que fizeste... o Futuro te dirá se a tua escolha foi a acertada. O mesmo Futuro que te atormentará com um eterno 'e se..?' no caso de optares ignorar tudo isso que tens aí... nesse cristal."

Seguro o cristal rubro, fixo o olhar nele por momentos. Sorrio. Tantas perguntas que estão sem resposta... tanta coisa que não consigo ver... mas que não conseguirei ver jamais se não me atrever a dar um passo em frente.

Olho para a lua. Chega, penso para mim. Não posso continuar neste caminho que não me levará a lugar nenhum. Um rumo define-se agora, neste momento. Sem pensar. Apenas a fazer o que a anjo me disse... seguir o coração.

"Obrigado", digo-lhe.

"Não agradeças", responde ela, dando-me a mão. "Vai. Não olhes para trás. Não mais. Acredita em ti... e luta."

Olho para ela a derradeira vez. Permanece um enigma para mim. Mas um enigma que sei que surgirá sempre que eu precisar. No fundo... no fundo sei quem ela é, e porque me ajuda. Mas não importa.

Há coisas que não podem ser mudadas, disse ela. Que esta seja uma delas, penso, desvanecendo o meu corpo deste mundo sombrio e voltando ao caos do espaço entre mundos, em busca de algo que não mais estou disposto a perder.

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