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December 14, 2004

[burned into oblivion - the freedom of the daybreak]

[burned into oblivion - the freedom of the daybreak]



E eis que vi. Simplesmente. Vi aquilo que só então percebi que não queria ver, que jamais quisera ver, mas que estava ali, reluzente como mercúrio.

Ingenuamente julguei que pudesse ser visão, alucinação, devaneio inconstante de uma mente febril; acaso de súbita loucura de uma imaginação já de si débil, errática, quase destrutiva, no limiar da insanidade. Fechei os olhos, voltei as costas, recuei. Hesitei, disperso, confuso, fragmentado. Abri por fim os olhos, inspirei fundo, como se no frio ar da noite existissem algumas moléculas errantes de coragem que me insuflassem de força, e olhei novamente.

Nada mudou. Ainda ali estava, exactamente no mesmo lugar, mas agora com uma expressão marcadamente trocista, imponente padrão da vitória que marca a minha derradeira derrota. Não consegui desviar o olhar. Tempo e Espaço desvaneceram-se, perdi-me no impetuoso turbilhão de imagens em cadeia que subitamente assalta o meu espírito, domina os meus pensamentos, tolda os meus sentidos. Espectros - ilusórios, talvez? - que conscientemente aceitei mas que no inconsciente veementemente recusei, e cuja existência temi mais do que tudo. Meu Deus, como me enganei..! Quero fugir, desaparecer, tornar-me etéreo com a brisa da noite e nos seus braços gélidos voar, voar para longe, até ao infinito, até lugar nenhum... até um lugar sem trevas nem luz, onde o nada que sou se funda com o nada que é em si, e que dessa fusão seja criado nada... ou, num toque de amarga ironia do Destino, que brote espontaneamente alguma coisa... mas é tarde de mais, é tarde de mais...

Não há retorno. Solidão, minha eterna escolha, companheira última entre as quatro paredes inertes desta cela vazia onde entrei. Hesitei, por instantes, trespassou-me a mente a ideia de desistir de tudo, de suplicar, de me entregar à morte, no momento último antes de a pesada porta de ferro se fechar e de inevitavelmente me mergulhar no vazio caótico do espelho da minha própria dor.

"A aurora chegará", sussurra uma voz, nem sei bem vinda de onde... é meiga, doce, como nos poucos sonhos puros que ainda me restam... és tu? Que queres dizer? Esperança? Ou um fim inevitável? Devo entregar-me, render-me a esta força que me esmaga sem me tocar? Ou antes devo estoicamente resistir, aguentar..?

Aguentei. Por ti, na esperança que as palavras fossem tuas. Agora espero a tua aurora.

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