[torn apart by a single memory...]
Sento-me à janela. Há muito que não o fazia, pelo menos desta forma. Acendo um cigarro, deixo uma sensação apaziguadora e melancólica tomar conta de mim.
Olho para o exterior. Está vento, mas não o sinto. Contemplo a noite nublada, vejo as nuvens de tonalidade indefinida sucederem-se no céu revoltado a uma velocidade estonteante. Devagar, deixo a melancolia tomar conta de mim, deixo cada nota da triste valsa que flutua na minha noite entrar dentro de mim.
Percebo tudo. Tudo aquilo que antes não percebi, não por não ser capaz de tal, mas porque, simplesmente, não quis perceber. Vejo tudo de novo... não um céu turbulento, inconstante, mas um fantástico céu estrelado... apago o cigarro devagar, vejo pequenas fagulhas cintilantes cortarem a noite, qual estrelas cadentes no firmamento...
Vejo-te. Como sempre te vi, como sempre te quis ver. Percebo que sinto a tua falta, mais do que alguma vez já senti. Percebo que estava enganado, que me andei a enganar neste tempo todo, que conscientemente me deixei invadir não por sentimentos reais mas por puras ilusões... percebo - finalmente! - as duas grandes verdades que tentei afastar da minha mente, e cuja inevitável presença me esmaga... que te amo, como sempre amei... e que te perdi... para sempre...
Vejo tudo. O sombrio demónio voltou mesmo, como profetizara, montado em seu dragão alado. Desafiou-me novamente. Mas não o enfrentei. Fugi. Tornei toda a anterior batalha inútil, desprovi-a de todo e qualquer sentido. Sucumbi a ele, quando disse que tal não aconteceria jamais. Deixei-me consumir pelos meus medos.
E paguei caro... bem caro, o preço dessa derrota.
Que me resta, agora, neste momento de arrebatadora dor? Memórias. Memórias do teu olhar cristalino, do teu sorriso meigo, dos teus lábios quentes, apaixonados. Saudades de ti, de te sentir comigo, de te saber comigo... mas não mais. Lembro-me daquela música... together, we were "the purest form of life..." but "our days are never coming back..."
Levanto-me. Deito fora o destroço de cigarro, desligo o som, fecho a janela. Mergulho o quarto na penumbra e no silêncio. Quedo-me só, mudo, destroçado. Que me resta..?
Não sei...
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