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October 30, 2004

[ancestral recall, future's wake - am i red or blue?]

[ancestral recall, future's wake - am i red or blue?]


"if today I die
and can't deny
the poison chosen
for tonight..."


Ouço a música dentro de mim, ecoando pelo silêncio da noite. Caminho sozinho, pois que companhia há muito que não encontro. Noite. Está escuro, e eu na floresta de sombras e sonhos, perdido.


Sinto o pulsar do silêncio na pesada imobilidade da floresta. Não há vento que faça bulir as escuras folhas, não há luz que revele as verdadeiras cores deste mundo. Não as vi, ainda. Cheguei há pouco.


Não é este o meu mundo. Já nem sei bem qual é... a viagem entre mundos é já tão longa. Muitos criei-os eu mesmo. E deles fugi. Por medo, por cansaço, jamais pelo simples gosto de viajar. Nunca consegui permanecer muito tempo num mundo.


Este não o criei. Apenas fugi da minha última e mais esplendorosa criação. Vagueei, errante, pelo nada intemporal que separa universos até me aperceber desta alta floresta que nem sei bem de onde veio.


Quedo-me num vasto cemitério perdido entre as árvores, pedras tumulares que emergem, como os troncos, do solo coberto por uma fina camada de água cristalina e fria. Uma névoa espectral eleva-se deste lago, qual espíritos dos há muito mortos. Sinto-a, envolve-me lentamente como numa carícia, suave, meiga, sedutora. Faz-me recordar. Acima, pendurados nos ramos das árvores, milhares de pequenos candeeiros de fogo eterno iluminam as trevas da noite. Sinto a sua luz, aquece-me a face, reconforta-me a alma. Faz-me sonhar.


Agora sei.


Sei porque aqui vim. Sei porque percorri esta floresta encantada até chegar a este lugar. Não sei porque fugi do meu mundo - mas sei porque a sequência dessa fuga me trouxe aqui. Precisamente aqui.


Este mundo é o meu espelho. Perdi-me na floresta, achei-me neste santuário. Divido-me entre a névoa que está em baixo e a luz que está acima. A névoa é o espectro do mundo em que vivi, belo e sedutor, que amei como nenhum outro... e que perdi, mas que me parece querer de volta, sinto-o, por vezes, na sua inconstância, em que me agarra num segundo e no outro me rejeita... Os pequenos candeeiros de luz são a luz de um mundo que desconheço ainda mas que sinto que me chama, que me quer nele... um mundo mágico, com o qual sempre sonhei, mas que jamais pude conceber.


Contemplo ambos com um olhar vazio. Neste mundo onde me encontro não mais posso prosseguir; anvançar é um imperativo. Seguro firme na minha lança. A escolha está revelada, a luta impõe-se. Tanto para num mundo conhecido como na luz do desconhecido.


Não sei qual será o resultado. Sei apenas que nesta noite, só nesta noite, o futuro de ambos os mundos está nas minhas mãos.

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