[O Lado Negro - Parte II - "Darkness... and Hope?"]
(...) "O teu tempo de ilusões ofuscantes e traiçoeiras chegou ao fim. Enfrenta agora a tua sombra, que mais não quer que aniquilar-te, ou com ela desce ao Inferno que tu próprio criaste."
Ouço o negro cavaleiro que pronuncia tais palavras e que me fita com um rubro olhar incandescente. Vejo-me nele. Compreendo agora quem ele é, o que ele é.
"Ardentemente desejei que, quando a minha derradeira hora chegasse, ela viesse por algo, demoníaco paladino, e não de algo. E eis que chegas tu, montado em imponente dragão alado que só nos meus mais tenebrosos pesadelos vislumbrei, empunhando a lança da minha fraqueza, querendo esmagar uma alma nos seus próprios medos. Concedes-me o meu desejo, então. Não tendo por quem lutar que não por mim, ergo a minha espada e combater-te-ei até que um de nós sucumba."
O sinistro demónio sorriu, o seu olhar brilhou com maior intensidade.
"Somente um louco se não renderia a tamanho poder. Desejarás ter-me dado a tua vida perante o sofrimento que te aguarda, Anjo Caído."
"Dar-te-ei a minha vida se assim tiver de ser, Criatura das Trevas. Mas dar-te-ei o Inferno antes disso."
Ergo a minha espada aos céus opacos iluminados por fulgurantes relâmpagos que na afiada lâmina se reflectem. Preparo-me para a luta, para a derradeira luta, em que nada mais resta que não eu e o maligno demónio que me desafia.
Foi quando a vi.
Solitária naquele campo de batalha desolador, não muito longe do local onde me encontrava, rodeada por destroços de batalhas esquecidas, uma jovem e invulgarmente bela rapariga com uma expressão intimidada observava o combate mortal que ali se preparava. Parecia pelo seu olhar triste e todavia fascinante que compreendia a luta que o anjo caído travava com o seu próprio demónio, mas mantinha-se à parte, perdida em dúvidas, aguardando algo que talvez nem ela própria soubesse bem o quê.
Contemplo-a à luz ofuscante dos relampâgos. Jamais alguém me pareceu tão radiante, tão bela, tão... Desejo que ela se junte a mim, que me ajuda a combater o meu demónio, o meu medo... mas parece imersa na sua própria guerra. Limita-se a ver. Será isso um sinal..?
A lança coruscante do negro paladino corta subitamente o gélido vento de Sul naquele que foi o primeiro ataque da minha guerra. Defendo-me. A lâmina afiada da sua lança embate violentamente na minha espada, lançando para a atmosfera os seus próprios relâmpagos.
A batalha por mim começou.
(...)
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