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November 03, 2004

[Future's wake - for the choice is already made - "long is the way and hard that leads from hell up to heaven"]

[Future's wake - for the choice is already made - "long is the way and hard that out of hell leads up to light" (Milton, Paradise Lost)]


Um arrepio de frio percorre-me a espinha. Como se a floresta, o caótico cemitério, a água gélida que me envolve os pés, tivessem ganho vida, e me envolvessem no seu espírito. Como se as essências dos dois mundos que naquele espelho negro vejo reflectidas ali estivessem efectivamente presentes, ambas me contemplando, ambas me atraindo, ambas me rejeitando. Sinto-as. No que foram, no que são, no que podem ser - desde a luz primordial até às trevas do desconhecido.

Sinto a névoa suave que me acaricia e me envolve, para no segundo seguinte se desvanecer. Na água cristalina vejo revelar-se, entre a neblina, um objecto. Um artefacto. Apanho-o do solo gelado, quedo-me surpreso. Uma estrela-do-mar está nas minhas mãos. Vejo, triste, o que é, relembro o que foi, a luz radiante que emanava. Não mais. Do brilho fantástico de outrora resta um apagado lampejo, um tímido fulgor. Não volta, não mais creio que volte. Perdeu-se? Deixei-o perder-se? Não sei, não o saberei jamais. Ficou perdido nas brumas. Esconde-se por detrás da evanescente névoa, sem me deixar compreender se o escasso brilho que vejo agora é real ou apenas mais uma ilusão.

Coloco a estrelinha de novo na água. Deixo com ela uma lágrima tímida, que a acompanhe no seu caminho. Ergo a face, contemplo o desenho de luz que acima de mim ilumina a floresta sombria. Futuro. Oscila, tranquilo, ao sabor da fresca brisa que agora sompra, suave, doce. Sorrio. Caminho de luz e sombra afigura-se nos inúmeros candeeiros, um mundo desconhecido aguarda em expectativa. Sinto-o a nascer dentro de mim, a pulsar a cada batida de coração, a crescer. A tornar-se real, palpável. Vivo.

Ilusão, talvez? Não o sei, não o saberei jamais se não tomar o risco.

E subitamente tudo se desvanece à minha volta. A sombria floresta, as soturnas tumbas, a água gélida dá lugar a um caminho fofo, coberto de erva fresca e caruma. Altos pinheiros ladeiam o caminho. Trevas e luz cobrem ambos os lados do trilho, envolvendo as árvores milenares, de forma simultaneamente quente e fria. Um brilho iridescente revela-se em esplendor longe, ao fundo, os seus raios, alcançando-me, envolvendo-me, acariciando-me o rosto fatigado, reconfortando a minha alma cansada.

A escolha foi feita. Passei para o outro lado do espelho. Uma nova luta recomeçará, ao longo deste caminho que diante de mim se revela em fulgor. Não sei o que o Futuro me reserva. Não quero saber. Prefiro descobrir agora.

Contigo...


("There will be gains for our losses,
There will be rights for our wrongs")

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