É verdade que nem sempre são os outros que mudam; na verdade, creio até que raras vezes tal sucede, e quando sucede, é por algo extraordinário, imprevisível, que abala todo um mundo desde os seus mais profundos alicerces. A vida é um jogo de ilusões, e existir significa entrar e sair desse jogo muitas mais vezes do que aquelas que conseguimos perceber. Acontece que nem sempre aquilo que vemos é real, pois que nem nós mesmos o somos absolutamente. Ou não sonhamos, imaginamos, devaneamos incessantemente? Por vezes os nossos mais profundos desejos - aqueles que se ligam ao Amor, fundamentalmente - passam do campo do sonho e mergulham no mundo ao qual convencionámos chamar de realidade. E isso faz necessariamente com que vejamos essa realidade com uns óculos de ilusão na fronte. Vemos coisas onde elas não existem, enquanto que a evidência de outras se nos escapa ingenuamente. Entendemos os outros, que nos estão próximos e distantes, de forma diferente, julgando, para o bem e para o mal, que eles são quem nós pensamos (desejamos) que eles são, e não quem eles são de facto. E assim vivemos, e assim nos iludimos. Ad infinitum. E que substitui o vazio de a pessoa que amamos - sim, que amamos - não ser como sempre a vimos, no momento fatal em que os óculos se partem e o sol da intensa tarde nos faz doer a vista? De todo o imenso amor que dentro de nós brotou ser vazio, inútil, uma amálgama pura que num segundo se corrompe e faz doer o coração? Não existe mais quem julgámos amar. Nunca existiu. Foi uma criação nossa, pura e simples; e quem nós vemos não mais será do que uma concha vazia que outrora foi a manifestação física, a personificação de toda a pureza evanescente de sentimento que dentro de nós nasceu de forma inconsciente e infantil. E assim morre um bocadinho de nós, a cada vez que vemos a realidade, a cada vez que damos com aquele rosto que em tempos idos nos pareceu o de um serafim celestial que deixou os céus por nós e que agora não mais é do que uma triste recordação, por muito feliz que a ilusão vivida possa ter aparentado ser. É a nossa sina eterna, que incorporamos não os pecados, mas o castigo de Sisífo. A nossa pedra acaba sempre por rolar até ao fundo.
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