Gostava de olhar para os céus e de ver as estrelas, como dantes as via, ou a Lua... a grande Lua, a tornar o mar da cor da prata, a tornar o infinito oceano num espelho de cristal. Gostava de voltar a sentir aquele vento fresco no rosto, de sorrir à noite luminosa e senti-la como só minha. Gostava de caminhar sem rumo, sem destino, e saber que onde quer que os meus passos algo trôpegos me levassem, me iria sentir bem. Gostava de saber que este mundo era o meu lugar.
Tenho saudades. Saudades até do tempo em que me assustava com as sombras.
Aqui, no coração das trevas, não há sombras. Aqui a luz não subsiste; nem os malévolos relâmpagos têm lugar. Aqui é a eterna penumbra, a eterna incerteza. Presentes, apenas os inconstantes fantasmas que insistem em assolar o meu caminho.
Estou, uma vez mais, sozinho. Ela partiu, seguiu o seu caminho. Sonhará com o nosso reencontro? Possível, ainda que improvável. Assim é a natureza do inferno: rouba da alma as emoções para as projectar algures na penumbra. Para criar fantasmas malignos, quando a sua essência era verdadeira e pura. Não sei se a voltarei a ver. Nem sei se sonho com isso. Ainda sonho?
Quem sois vós, demónios silenciosos que me fitam com olhar malévolo das trevas do caminho? Porque permaneceis quietos e calados na penumbra, assombrando o caminho, sem me tocarem, sem me pararem? Acaso me temeis, a mim e à espada que nem por um segundo a minha mão solta? Ou apenas esperais o momento certo para a emboscada?
Entretanto o céu muda. Não sei o quê; mas de alguma forma a sua tonalidade muda. Pode ser apenas ilusão dos meus olhos cansados, ou miragem do meu desejo ardente. Mas, algures em mim, bem nas profundezas do meu ser, sinto que a cada passo no acaso deste solo duro e árido, estou mais próximo da saída deste pesadelo...
(continua)
("Dart Moor"; imagem por Rob Alexander)
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